Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Ardente

Inspiro.
É a arte que me tem. Enquanto as ânsias percorrem meus sentidos e encobrem minha visão plana do real, busco ponderar. É a arte.
Eu poderia enunciar que não passas de mais um personagem saboroso das fábulas da minha permanência. Que como tu, muitos passaram, deixando um eflúvio suave sob os poros da minha pele, páginas e mais páginas de contos estimulantes e vivos. Poderia manifestar que fazes parte do meu quarto de paixões, como mais uma lembrança apreciada no fundo de um baú de desejos.
Mentiria.
A arte arrasta minha alma pelas travessias narrativas do cosmos, abrasando todos os aspectos das minhas estruturas. Vê-me quente. A arte, com suas desmesuráveis condições e configurações, com letras, traços e acordes, me tem. Sou pertencida. Cativa das sensações e caprichos engenhosos desses conhecimentos intuitivos.
De tantas dúvidas, essa é certeza.
Agora, medito. Cato compreensões. Sinto sentidos, eles quase me tocam de forma palpável. Tenho a alma fatigada, é uma jornada custosa. Os significados dançam em meu entorno, cruzam com seus significantes, parecem desfrutar das minhas dubiedades. Não renuncio.
Experimento esclarecer. Ainda não disponho das respostas, porém pressinto alguns cabimentos. Tens algo. Sim, tua existência é arte, mas tua arte é estranha, desconforme. Fitas-me e endereças circunstâncias ao meu ser-estar. Atinges-me com as expressões do teu espírito. Sinto-te como verdade. Tua sapiência e nitidez me envolvem. Contemplo tua natureza e me cabe conforme.
Que simples seria mais um causo. Mais palavras rabiscadas no caderno da minha aurora. Vejo o desacordo, mas não o compreendo. Por que és tão singular? Por que tuas sensibilizações se misturam com as minhas? Em quais possibilidades existes dentro de mim? Ai, as sensações.
É a arte que me tem. Empecilho encontro quando não alcanço os motivos das tuas ocasiões no íntimo da minha luz-estima. As pinceladas orientam-me ao interior.

Sinto.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Expressoezinhas

---

desperta
teu verso
mais perto
me aperta
teu peito
deu certo

---

delícia é ver
meu eu torto
louco
lírico
único
encantando
encontrando
e refletindo
o teu eu

---

enquanto reflito
vejo meu reflexo
refletido
na tua retina

---

teu olhar
incita
alicia
atiça
desperta
invade
e me convence

---

o pau é pensador
faz refletir
minha flor
o gozo é intelectual
porque a melhor transa
é cerebral

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para que
vernáculo nacional
já não me importa
tua nação
o que eu sinto
é universal
é só na tua língua
essa sensação

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encontrar força
para desapaixonar
acalmar o coração
e aceitar
fechar os olhos
tentar renovar
procurar entender
e mal saber rimar
acertar o foco
fotometrar
sentir fundo no peito
supostamente aguentar
sonhar pelo horizonte
e
apenas
dançar

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ironia

a dor
realmente
inspira

---

egoísta

sou amante
do meu mundo
de uma forma
sufocante

não empresto
minhas paixões
tenho ciúmes
delirante

cada esquina
da minha essência
tem as ganas
de ser única

mas eu sei
lá no fundo
nenhuma delas
será a última

---

eu vi
no vento
teu vício
numa visão
em uma volta
a vida
tão vista
na vastidão
espero, vivo
para que venhas
ativa, vetar
o meu vulcão

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a inspiração
não vai, teima
mas essa dor
que queima
não me deixa
sequer
terminar um poema

---

bom dia
ele disse
sem esperar
companhia

quem diria
pensou ela
enfim era ele
que respondia

---

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Acredite na troca de olhares, mas tenha paciência

Incontáveis pessoas passam pela sua vida diariamente. Normalmente você segue com o olhar para baixo, fugindo dos encontros, ignorando a pessoa ao lado. Por vezes, porém, alguns olhares se cruzam. Desses cruzamentos, a maioria termina sendo só mais uma troca qualquer na Praça da Alfândega. Mas, algumas especiais vezes, quando os olhos se tocam, algo fica. Vontade, interesse, curiosidade, frio na barriga. Em um minuto, a partir da energia compartilhada naquela troca de olhares, o seu mundo muda. Intenções, expectativas, suposições e imaginação. Para uma pessoa criativa, ou nem tanto, naquele minuto as possibilidades são infinitas. Tudo pode acontecer. Ele é exatamente quem você gostaria de conhecer hoje. A aura que aquela troca de energia traz para a situação propicia conclusões irrisórias. Que pessoa interessante! Que história incrível! Você precisa saber mais, é tudo o que você precisa agora. Você não tem a mínima ideia de que, apesar da relevância do câmbio energético fornecido pelo toque de retinas, a pessoa na sua frente não é a mesma pessoa na sua mente. Você e suas expectativas, sustentadas pela provável possibilidade de que aquele sentimento realmente signifique algo a mais de que uma simples consequência do calor estonteante de um janeiro em Porto Alegre, criam uma realidade paralela. As borboletas chegaram ali não necessariamente pela atitude concreta da pessoa na sua frente, mas por meio da ideia, da aparente existência de uma conexão, iniciada naquela troca de olhares. A realidade interior não é menos verdade que a realidade exterior e dessa forma elas se mesclam. Mas veja, a sua realidade só vai fazer sentido para você. E é nesse momento que as coisas ficam complicadas. Isso aqui não é um cachimbo. Por mais que a realidade exterior seja um reflexo da sua própria realidade, algo como o mito da caverna de Platão, você realmente sabe o que é uma imagem? Você é, e eu também, prisioneiro do mundo sensível, apesar de viver no mundo inteligível. A imagem é uma representação, um aspecto particular. Isso aqui não é um cachimbo. Você já sabe onde quero chegar. A troca de energias entre duas pessoas é impossível de subestimar e pode tirar o chão de alguém. Mas, às vezes, aquela energia só precisava de movimento, por mais forte que o câmbio tenha sido. Dois dias depois que você cruzou com ele naquela esquina do Menino Deus você consegue refletir sobre as suas vontades. Ele não é um cachimbo. Você consegue lidar com o fato de que ele não é aquilo que você idealizou? Que a conexão que sua mente fez parecer na realidade era o reflexo de algo que estava latente dentro de você mesmo? Ele não é nada daquilo que você imaginou, nunca foi, nunca quis ser, nem imaginava que você estava pensando nessa possibilidade. É uma consequência da pressa com que se vive. Tudo é para ontem. Mais rápido. Mais rápido. As expectativas se criam tão depressa que não há tempo de refletir. Nessa afobação não há tempo para parar por cinco minutos e apreciar o entardecer na beira do Guaíba.
Mas não desista de acreditar na troca de olhares. Viva o agora. E deixe amadurecer.
O tempo cura, deixa nascer. Esteja confortável, sem pressa, com calma. Escolha estar ali para o pôr do sol. Alimente com carinho as suas relações. Dê tempo ao seu coração. Sinta a energia a sua volta.
Use os próximos dois dias para perceber o seu redor. Pense nas pessoas que estiveram ao seu lado nos últimos doze meses. Pense nas pessoas que se mostraram, fracas, defeituosas, quebradas, inteiras para você. Olhe para o lado e reflita por meio da paciência. O que você vê? Ou melhor, quem você vê? Ele é exatamente o que você precisa agora.

Você está exatamente onde deveria estar.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Desperta

Final de semana reflexivo. Duas almas me levando para o caminho do bem, inspirando a minha existência. Espiritualizada. Energias renovadas. Conexões sensitivas a mil. Desperta. Corpo são, mente são. Amanhã inicia o resto da minha vida. Gratidão.

domingo, 19 de outubro de 2014

Doendo

Das dores: O momento em que aceitas o peso inevitável da realidade e derramas a primeira lágrima de um sentimento não correspondido.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

salacidades amenas

Banho

Leitura

Céu

Ambiente

Essa semana eu pareço estar transpirando inspiração e inspirando a piração. Existem épocas que eu pego todo esse sentimento que sou e resolvo aceitá-lo, deixo ele me absorver por inteira, como teria que ser normalmente – creio eu, e me sinto meio completa assim, não sendo, mas só sentindo. Sentido?

Essa semana eu também estou exalando libido. Como não pretendo escrever aqui meus sonhos molhados, gostaria de discorrer sobre algumas situações que me dão um prazer quase tão deleitoso quanto o lascivo.

Banho, leitura, céu e ambiente.

O momento em que abro a porta do boxe, dou um passo e vou para baixo do chuveiro.  Sinto a água quente atingindo primeiro os cabelos, em seguida esses, molhados, encostam nas minhas costas que se arrepiam de uma forma formosa. A água quente vai me tocando aos poucos e aos muitos, e o vapor toma conta do boxe. Eu fecho os olhos e deixo a água escorrer enquanto a sensação relaxante invade até por dentro.

O momento em que começo uma leitura de algo que toca e que faz refletir. Começo lendo palavra por palavra, que logo se tornam frases e o seus sentidos fazem tanto sentido na minha alma que a leitura vira sensitiva. Vou lendo, ao meu ritmo, como se fosse uma masturbação, mais rápido, mais devagar, esperando o momento certo para o desfecho da poesia, do conto, do texto ou da análise. Sinto o corpo arrepiar, bem ali na nuca, e as cócegas, que chamam de mariposas, aqui dentro, enquanto vou mergulhando nas palavras que perturbam, afligem e deleitam a minha mísera existência que é afeição.

O momento em que piso fora do prédio e o horário é o fim de tarde. Quando o céu deixa Porto Alegre com um tom alaranjado meio amarelo meio amor que toma conta do ar. O amarelo a gente sente ao respirar. O clima é ameno, tem vento, pois ele toca. A brisa suave balança o vestido e os pássaros cantam no Bom Fim. Respiro fundo e sinto, mais uma vez, o arrepio dentro e fora. Tranquilidade e prazer explícito em existir e sentir. Viro meu rosto e tem a lua cheia nascendo no horizonte, me fitando, irmã, regente máxima das minhas marés.

O momento em que escrevo esse texto. Ou que realizo qualquer atividade que possa ser considerada banal durante o meu dia e escuto uma música que abala de alguma forma a realidade vigente. Sinto a voz, o ritmo e a cadência das notas musicais de que nada entendo, mas que parecem me decifrar completa e totalmente. As melodias dançam com os pelinhos de cada aresta do meu corpo e apoderam-se do meu presente. A palpitação é arrebatadora, mas doce.

sábado, 20 de setembro de 2014

O paradoxo B - tentativa frustrada de aclarar o algaraviado

"Escreve com um pseudônimo e publica", ele me disse frente à impublicabilidade das minhas histórias. O desafio era me despedaçar aos poucos ao escrever com essa máscara, que, na realidade, serviria para colocar para fora minha essência, aquela tão verdadeira que chega a ser impublicável. Foi aí que surgiu o "paradoxo B". 

Primeiro, deixa eu contextualizar. Eu sou eternamente apaixonada pelo poeta, aqui representando qualquer criatura que possua o dom de se expressar, ou como dizem, que entenda os paranauês da alma. As palavras me afetam mais que um carinho na nuca, quando eu leio algo que me abala de verdade, eu perco o meu chão. É que eu sou intensa.

Bom, ele escreve. E eu lia ele. Ele entrava fundo na minha alma enquanto ia formando as frases fatais daqueles textos, sem nem imaginar a possibilidade da minha existência. Ele era uma das coisas que acendia os pedacinhos de intensidade do meu interior com as suas expressões. Ele era uma coisa, um ente.

Mas um dia, até hoje ainda não entendi como, a entidade virou pessoa, virou conversa, virou conexão. Eu tive que começar a lidar diretamente com a criatura que me dava labirintite. Do nada, mesmo, eu tava tentando me expressar para aquela entidade expressante que jogava expressões no ar e elas caiam dentro de mim com um peso matador. Ele virou um "ele", virou alguém. Eu tava tendo conversas com aquela cabeça, com aquela mente e com aquele coração, os mesmos que descreviam um mundo que eu já via um pouco como meu.

Um dia, tentando explicar, eu disse, meio ingênua: "Tu escreve muito bem. Eu poderia dizer que as tuas palavras me tocam. Mas o que eu sinto é um pouco mais que isso. É como se eu bebesse tuas palavras e fosse contaminada e elas tivessem correndo ou passeando dentro do meu sangue. Eu sinto um pouco mais que um toque. Eu sinto uma infecção. Porque, eu como leitora, sentei e escolhi ler o texto como se tu tivesse falando comigo. E falou." 

De repente eu comecei a me expressar, a me abrir, a buscar alguma forma de coexistir com essa entidade como se fosse uma pessoa qualquer. E, aparentemente, ele é uma pessoa qualquer. Ele fala gírias, ele tem um olhar que dá vontade de mergulhar dentro e ele me manda ler bula de remédio tarja preta, quando se cansa de mim. 

A partir daí as coisas aqui dentro começaram a dançar, para cima e para baixo, vários lugares acendiam e apagavam. Os pés batiam no chão enquanto a mente me dava ainda mais dor de cabeça. A labirintite adquiriu novos sintomas, acabou virando um caso para o doutor House. É que eu sou intensa.

Ele me assusta enquanto os registros dele me inspiram. Me desafia a escrever um texto, para que o façamos juntos. E então, eu defino o paradoxo:

Como qualquer palavra que eu possa digitar aqui vai ser boa o suficiente para a imensidão que é a escrita dentro dele? Como vou me abrir completamente em um texto com pseudônimo, enquanto a banda que ele me mostrou é a trilha sonora dos pensamentos mais cabeludos e incompreensíveis da minha cabeça nos últimos dias? Como me despedaçar inteira em forma de texto enquanto os olhos profundos me dizem que tudo não passa de hormônios e neurônios?

Como tornar publicável o espectro sutil e sui generis do encontro do escritor com a leitora, da palavra com a retina?