Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Me diz

Qual é o motivo, então
De existir nessa vida
Que não seja somente
Ser poesia?

Minha Utopia I

    Então eu acordo e tento olhar ao meu redor. Vazio. Um imenso nada de uma cor que não existe. Estou flutuando de uma forma antes pensada impossível, talvez isso seja a gravidade zero. O som também não existe. Não escuto nada, não vejo nada, não sinto nada. Não sinto nada com o tato. Parando para pensar, não possuo tato, não possuo corpo.
    O silêncio é, de alguma forma, o poder mais intenso dessa coisa/lugar onde me encontro. Me pergunto se realmente me encontro em algum lugar. Aqui o tempo e a mera existência que somos acostumados não fazem sentido, nem pensam em acontecer. Tento organizar meu pensamento, se é que consigo pensar. Levitação é uma palavra que eu poderia tentar utilizar para descrever essa sensação. Mas, entende, o estado em que me encontro é indizível. Ele, de fato, não existe.
    De qualquer maneira cá estou, atônita, tentando decifrar o que estou sentindo (se realmente estou sentindo algo). Êxtase, o cúmulo da paz interior e exterior. Eu e o nada, eu no nada, eu sou nada. Eu sou tudo. Esse vazio de alguma forma está me completando. É como se eu estivesse mergulhada em um mar de algo denso e ao mesmo tempo tão leve como uma brisa. Na verdade eu não estou nesse mar, eu sou esse mar. Não possuo mais matéria. Estou misturada nessa imensidão, partículas, penso que menores que os átomos, que são eu mesma, se fundem nesse grande vazio. Mas espera aí, estou sentindo alguma coisa a mais.
    É uma força ainda mais intensa que o silêncio, essa força agora também faz parte de mim. Ela entrou completamente nesse vazio. Agora me sinto, de fato, completa. Não peça para eu explicar, isso não existe, isso é o nirvana da alma. Ah, agora faz sentido.
    Sou completa, pois sou só alma. Sou completa pois essa força que chegou é a tua alma. Ápice da veemência nessa utopia. O encontro das almas da forma mais pura que se possa imaginar. Não tenta imaginar, é impossível. O impossível aqui, nesse espaço atemporal é a única coisa possível. O deleite prolongado ao máximo, a alma lépida para sempre.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Formato Mínimo de uma noite em Paris

Meu gosto por proparoxítonas e tua vontade de ler algum devaneio meu sobre qualquer coisa que poderia ter acontecido me ocorreram ao escutar essa música, rodeada de proparoxítonas e passível de inúmeras interpretações. Aqui além de interpretar ela, me atrevo a interpretar ele também. Um conto feito da música, das proparoxítonas e de um desejo franco, francês.

"Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima"

Súbito foi o encontro dos dois, na neve, no frio francês, dois viajantes em busca de aventuras diferentes.
Ótima a noite em que conversaram, se conheceram um pouco melhor. Ele não entendia ela, ela não entendia ele mas a compreensão e o encanto eram mútuos.
Príncipe ele não era.
Próxima ela estava cada vez mais dele.


"Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo"

Óculos que ela não usava, que deixava claro seu olhar tímido porém insinuante mesmo sem querer.
Vírgulas em meio a frases mal(ou bem) ditas, conversas cruzadas, português, francês, inglês e desejo.
Ácido aqui seria o sotaque dele, porque ela realmente achou aquilo um
Máximo.


"Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos, gozaram rápido"

Ásperos com certeza não seria o toque dos lábios dos dois. Íntimo, único e lírico aqui seriam proparoxítonas mais adequadas.
Fôlego ela já não tinha quando via ele de longe, quando o escutava e quando ele chegava mais perto.
Trôpegos? Só ela. No mínimo uma noite indizível.
Ávidos, com certeza.


"Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida"

Álibis não existiam, nesse cenário não haviam desculpas para não acontecer. Os dois se entregaram sem hesitar.
Lépida, sim. Ela ficava, era, flutuava mais que lépida ao lado dele.
Pânico, ele se deixou levar, ela não era mais somente a próxima.
Lívida era a vontade de ambos. Vontade em todos os sentidos, de tudo, de compartilharem os míseros detalhes de cada um e de cada momento.


"O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela, o súdito
Desenhou-se a história trágica"

Ínfima as diferenças e as consequências daquele encontro, naqueles instantes.
Dádiva para os dois.
Súdito ele se declarou, sem pensar no dia seguinte.
Trágica talvez fosse a tendência para o desfecho desse conto.


"Ele, enfim, dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo, a vítima"

Apático, aqui não.
Cálida era a noite em Paris, mas eles dormiram aquecidos, quentes.
Tímida ela acordou, sabendo o que viria a seguir.
Vítima do desejo, ela partiria daqui a pouco, assim como ele.


"Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico"

Rápido arrumou-se e partiu para seguir viagem.
Tétrico, triste e surpreso ele sentiu-se.
Épico o que tinham vivido, porém cada um seguiria seu caminho.
Cínico seria tentar mudar o destino que os esperava.


"Para ele, uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão, a rúbrica"

Típica a noite, mas não o sentimento.
Mínimo formato do amor, não naquela noite. Lá havia tomado outra forma.
Clínico e selvagem o encontro de seus corpos. O encontro da alma, poesia.
Rúbrica de uma história de uma noite só.

Um romance de um dia, uma lembrança de uma vida toda.



*Paris aqui representa qualquer lugar que habite a tua memória, só se deixar levar.