Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Les 3 mois

Hoje completo 3 meses de França, quase 3 meses de Grenoble. Numa segunda-feira, 27 de novembro de 2006, eu escrevi sobre os meus primeiros 3 meses no meu intercâmbio nos Estados Unidos. Lendo aquele texto me vejo com 16 anos, cometendo ainda mais erros gramaticais que hoje, jovem, imatura em diversos aspectos, mas com pensamentos que formam quem eu sou até hoje. Hoje, madrugada do dia 23 de novembro de 2012, 6 anos depois, lendo aquele texto, vejo como mudei, como cresci, como amadureci mas, principalmente, como sigo sentindo as mesmas coisas e sendo completamente a mesma pessoa. Aquelas primeiras impressões da minha primeira grande viagem internacional forjaram muito do que eu sou hoje. Fico com o coração quente e confortável em pensar como a Bebeth de 16 anos ficaria feliz em saber que, 6 anos depois, eu/ela estaria vivendo algo ainda mais intenso e enriquecedor como o intercâmbio nos Estados Unidos. As pessoas me perguntam porque quero ficar. Ora, os motivos são intermináveis. Sentada na minha cama na frente do computador, hoje lembro e penso em tudo que vivi nesses 3 meses. Tudo que conheci, tudo que senti, todas as pessoas que conheci, lugares que visitei, momentos inesquecíveis que passei, sentimentos com uma intensidade incrível que senti, tudo que eu aprendi, todas as histórias que vivi e tudo que ainda vou aprender e todas as histórias que ainda vou viver. O coração acelera, bate mais forte, o corpo fica quente, a gente fica mais leve. Com certeza não é fácil. É a primeira vez que estou morando sozinha, tendo que me virar pra limpar a casa, lavar roupa, cozinhar e fazer sobrar mês no fim do dinheiro. Francês não é inglês e as aulas não são fáceis. Sou obrigada a ser responsável sozinha, a estudar, a manter meus horários, a cumprir minhas obrigações sem a Rosa Maria gritando "ANA ELIZABETH, TROCA O LENÇOL DA TUA CAMA!!" Estou vivendo pela primeira vez sem a ajuda da minha mãe e nenhuma outra mãe (Kim e Joanne, amo vocês). Eu inventei de estudar latim e alemão EM FRANCÊS. Eu subo uma montanha todos os dias. Eu já morri de rir, já sofri, já chorei, já fiquei bêbada, já gostei demais, já odiei, já pensei duas vezes, já não pensei, já vibrei, já me irritei, já fui a pessoa mais triste do mundo e, o melhor, já me senti a pessoa mais feliz do mundo, diversas, diversas vezes. Como eu falo da Grécia, isso que eu estou vivendo é um sonho. Não é só a realização de um sonho, mas é literalmente um sonho. Uma vida onde tudo é novidade, onde tu aprende EM CADA SEGUNDO que tu vive, onde tu não cansa nunca, onde tudo vale a pena, onde o frio na barriga é uma sensação constante, onde cada passo é um desafio, onde não existe tempo para ficar entediada, onde se respira cultura, onde cada pequena conquista tem o sabor da melhor vitória, onde a intensidade reina e faz esses 3 meses entrarem na lista dos melhores meses da minha vida. Estou em constante evolução pessoal. Já disse por aqui várias vezes que a única certeza que nutro na alma é a possibilidade de sempre, sempre aprender. A diferença é que em Porto Alegre, ou em Bagé, eu levo uma certa quantidade de tempo para aprender uma determinada parcela de alguma coisa qualquer. Numa viagem, num intercâmbio, numa experiência dessa intensidade, esse tempo é reduzido MUITAS, MUITAS VEZES. A cabeça dói de tanta informação, tanta reflexão, tanto pensamento passeando na tua mente. Não é fácil, mesmo. A saudade dói, penso todos os dias nos meus sobrinhos, na minha família, sinto muita falta das minhas amigas, de comer um sushi, de estar perto da minha mãe e dos meus irmãos. Mas eu sei que todos que eu amo estão felizes por me verem realizada por aqui. E, de alguma forma muito estranha, sei que vivendo e aproveitando cada segundo dessa etapa da minha vida, ela está me dando muitas respostas que vão me ajudar nas minhas próximas caminhadas. Hoje, lendo nesse blog um texto de 6 anos atrás, me pergunto onde eu estarei em 2018... e tenho borboletas no estômago e uma sensação muito boa. Que venham os próximos meses!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mes chers voisins

Um dia eu preciso sentar e colocar pra fora todas as minhas reflexões sobre o termo "vizinhança". Uma das coisas mais interessantes que eu to vivendo aqui em Grenoble é morar numa residência universitária. Ao mesmo tempo que moro sozinha, eu divido cozinha, banheiro, biblioteca e lavanderia com outras sei lá quantas centenas de pessoas. É uma coisa muito diferente. É como nunca estar verdadeiramente sozinho. Sempre tem alguém batendo na tua porta, te oferecendo comida, perguntando como foi o teu dia no corredor, te convidando pra fazer alguma coisa. De manhã cedo, quando tu sai pra ir no banheiro com AQUELA cara, tu encontra um vizinho com a cara pior ainda. Ainda mais interessante é essa vizinhança ser completamente internacional. Tem de tudo. Tem os chineses que moram, mesmo, na cozinha, e, estão, incrivelmente, em todos os andares. Tem os ingleses do segundo andar. Tem os mexicanos e os colombianos do primeiro andar. Tem os holandeses do quarto andar. Os europeus (alemães, holandeses, húngaros, gregos, etc) do terceiro andar. Os Backstreet Boys do quinto andar.... e por aí vai. Aqui no meu andar (e no 3º) tem algumas das minhas melhores amigas de Grenoble. Sabe como é bom tu acordar, colocar a pantufa e bater no quarto da tua amiga, pegar as coisas e ir pra cozinha ficar fofocando durante todo o almoço? Ou na segunda-feira, dia de marcar pra lavar roupa, onde o prédio inteiro toma as escadas e fica conversando na fila. Ou na quarta-feira, ir pro foyer com os vizinhos só pra jogar um pouco de sinuca ou de babyfoot. Ou na sexta, depois que o foyer fecha, que tu vê grupos de pessoas caminhando pelos corredores procurando um after-party numa chambre qualquer.. Tu escuta no mínimo  4 idiomas por dia (português, francês, inglês e provavelmente espanhol, alguma língua asiática ou germânica...). O pessoal combina de fazer crepe no domingo e a cozinha no primeiro andar fica lotada. O pessoal vai fazer festa no quarto do colombiano e viram a cama e transformam o lugar numa boate. Tu termina a noite falando sei lá qual idioma no terraço morrendo de frio. Tu faz amigos lavando roupa. Tu sobe a montanha sempre com alguém diferente. Quando tu tá afim de bater um papo, é só deixar a porta do quarto aberta que aparece alguém. Pra conversar, pra cozinhar, pra ver um filme, pra te escutar, pra te fazer te sentir menos distante de casa. Sério, os melhores amigos que fiz aqui em Grenoble são os meus vizinhos, eu tenho muita sorte e sou muito feliz por isso.