Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

17 de janeiro


sério, hoje foi um dos dias mais lindos em grenoble. a neve não parou de cair, mesmo com céu azul e com sol. desci o rabot pensando em coisas boas e vendo os flocos dançando com o vento, demorando a cair, pousando de leve no chão e derretendo rápido. ou parando tranquilos no meu casaco e no meu cabelo. ficar só olhando cada floco, cada um desenhadinho de um jeito, tão pequenos, tão lindos, tão branquinhos, tão leves, tão perfeitos. como pode esses cristaizinhos cairem lá do céu e chegarem aqui sendo tão lindos? e todos eles juntos ainda por cima nos dão essa paisagem branca e reconfortante que é única. eu podeira passar horas e horas só vendo a neve cair. é magia sim, cada floco é um pedacinho de mágica que cai do céu.
 
 
 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Uma tarde de sol no inverno francês

O tempo muda rápido nas montanhas e o inverno é rigoroso. O vento sopra forte e mesmo assim as nuvens passeiam, na maioria das vezes, sem pressa. Em meio ao inverno majoritariamente branco nos alpes franceses é possível encontrar o sol em dias inesperados como hoje. Numa tarde de terça-feira ensolarada, até, quiçá, quente, aos olhos dos velhos acostumados à vida nas montanhas geladas, as pessoas tomam conta as ruas. No meio da semana tu poderias imaginar que eles estariam trabalhando, tendo aulas, cuidando dos seus afazeres. Mas os cafés em Grenoble, capital do departamento de Isère, na região Rhône-Alpes, na França, estão lotados. As mesas invadem as calçadas e pessoas de todas as idades estão por lá, caminhando no centro, no campus universitário e no bairro vizinho. Eu desço do tram na parada de nome mais gostoso da cidade: "Hubert Dubedout - Maison du Turisme" imersa em meus fones de ouvido tentando compreender as palavras em catalão cantadas numa música qualquer no meu celular. Chego na Place Grenette. O meu olhar sobe e de repente não estou mais imersa em meu mundo. Vejo uma tarde de sol no inverno francês. Um homem nos seus vinte e tantos anos lê um livro, com uma cerveja numa mesa logo na minha frente. Ao lado uma moça coloca os óculos de sol e acende um cigarro, conversando com a amiga. Atrás dois velhinhos discutem sobre algum assunto qualquer, logo ali um homem lê o jornal comprenetrado enquanto uma mãe brinca com sua criança que corre por entre as mesas. A senhora passeia com o seu cachorrinho e o cachorrão do hippie meio morador de rua parece que presta atenção na música que sai do violão do seu humano. O casal passeia de mãos dadas. Mãe e filha olham vitrines. Pessoas esperando o tram, tomando café, comendo um crepe. Eu sigo. Na esquina o som da gaita traz saudades de Paris. A fonte no centro da praça está seca, os adolescentes encostados nela estão fixados no celular. Os prédios em torno da praça, de arquitetura tradicionalmente francesa, que mesmo em seis meses ainda enchem os meus olhos, completam a paisagem. É como um daqueles quadros retratando o cotidiano europeu que nos faz ficar horas divagando e imaginando como deveria ser. Em seis meses essa cidadezinha nos alpes virou minha casa, dona do meu cotidiano, um verdadeiro lar durante essa incessante busca por auto-conhecimento. E ainda assim, da mesma forma que meu coração acelera cada vez que abro a janela pela manhã e me deparo com as montanhas brancas e a cidade amanhecendo lá embaixo, em inúmeros pequenos momentos, como o dessa tarde, me pego estarrecida, sem ainda acreditar verdadeiramente que estou vivendo num cenário saído direto do meu mais querido sonho.



"(...)I estirat, pensant això,
sé que no puc triar-on vaig,
però m'il·lusiono els dematins.
Jo només puc fer el que faig.

Sembla que tot s'ha mogut
i que tornarà a ser maig.
Jo només faig el que puc.
Jo només puc fer el que faig.

Intentant entendre'm més.
Repassant el que he viscut.
Sé que no tot ha estat bé.
Jo només faig el que puc."

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Delírios sóbrios de uma volta pra casa



            A língua emana traços insólitos de pensamentos não desenvolvidos. A mente divaga sobre as histórias nunca contadas, escritas em um livro sem prefácio nem epílogo. Lembranças escondidas em um emaranhado de opiniões, críticas e expressões mal-acabadas. Contos e mais contos alimentados, durante anos, por resquícios de antigos desejos. Desejos esses ainda latentes, vivos em cada personagem retratado dentro dessa biblioteca de ideias.
            A ponta do lápis encosta no papel, e os filhos paridos pela insana imaginação ainda ingênua da moça dos olhos castanhos saltam como coelhos apressados tentando não perder a hora do chá. São mãos, bocas, sonhos, passos perdidos e olhares encontrados misturados ao ritmo quente da valsa que tocava na noite passada.
            Acordada dentro de um sonho ela sublinha as possibilidades, e reflete sem qualquer lucidez sobre os desdobramentos dessa história. É uma dança surda que nem o próprio rei coração, retorcido entre seus átrios e ventrículos, - regente superior desse universo sem era nem beira -, alcança a compreensão.
            Por vezes é como se todas as vontades já sentidas por aqueles olhos atacassem de uma só vez a biblioteca numa explosão de sentimentos sem semelhante. Ela não cansa, mas está exausta. Cada janta, ligação, passeio na lua, volta de balão e subida de montanha suga parte de seus suspiros, acabando por deixá-la sem forças diante das enormes vontades de uma vida inteira.
            Olhar para o céu já não mais basta. É preciso que o mar, a terra, a água, o fogo, a folha que caiu daquela árvore naquele dia em Barcelona, o sopro do vento entre os prédios e o toque suave dos amantes no banco da praça central se unifiquem e, juntos, façam, de alguma forma, sentido. Onde foi parar o sentido descrito naquele parágrafo?
Antes as coisas pareciam tão fáceis. Nessa biblioteca-mundo nem sempre os personagens tem voz. Os olhos castanhos machucam e procuram abrigo no país vizinho. Essa aventura danada alguns por aí teimam em chamar de vida. Vida, cabeça, tacos de Lyon, nuvem amarela, qual é a diferença? Enquanto o lápis toca o papel, os pássaros voam cada vez mais longe, vão diminuindo no horizonte até se tornarem míseros pontinhos que dói só de olhar.
            

            A língua emana traços insólitos de pensamentos não desenvolvidos. Os olhos castanhos miran lejos. E a paixão lê, com calma, cada linha em cada esquina dessa história de um lado só.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Como é?

"é como finalmente descobrir que não se pode viver sem oxigênio, é o arrepio da pluma passeando pela pele, é andar pelas nuvens de moto à 250 km/h, é como a vertigem na beira do precipício, é como chegar ao topo da montanha e tocar na neve fresca, é como o poder de abraçar o mundo, é como flutuar lépida no mediterrâneo, é como a mais pura adrenalina, é como um terremoto, é como a força da água nas pedras dos molhes da barra, é como encontrar sombra na imensidão do deserto, é como ser a própria borboleta dentro do estômago, é como se não existisse nenhuma outra pessoa no mundo, é como se aquele momento fosse uma vida inteira, é como se aquela troca fosse a única sensação possível, é como correr para escapar de uma explosão, é viver essa explosão, é se deixar levar completamente, é o carinho de um urso, é poder voar como um pássaro, é saltar de asa-delta, é a sensação do maior prazer existente, é como se a vontade estivesse tatuada na pele, em cada esquina e em cada centímetro, é como um êxtase infinito, é o desejo na sua forma mais bruta e mais pura."