Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

A nostalgia precoce

A metade do meu intercâmbio chegou e foi embora correndo. Hoje foi o meu último dia de aula na Université Stendhal - Grenoble 3. Agora só mais uma prova e um trabalho e depois, c'est fini. Hoje começou oficialmente o meu último mês capital dos alpes. Num piscar de olhos, em dois meses, estarei de volta a Porto Alegre.

Hoje foi um dia lindo. O sol ainda tá brilhando, são 19h28 agora. Eu acordei super cedo, cheguei suando na faculdade, fui pedalando pela beira do rio sob o sol matutino dessa primavera. Tive minhas duas últimas aulas com o M. Guichard. Hoje, em um dos meus últimos dias no campus, tive mais uma das epifanias que venho tendo desde o início da semana.

Faz 8 meses que eu estou vivendo o meu terceiro intercâmbio, minha quarta grande viagem. Qualquer um poderia imaginar que eu tiraria de letra esse ano na França. Afinal, já aprendi demais, todas as reflexões já foram feitas, não canso de contar minhas experiências e aprendizados. Sim, faz muito tempo que o mundo é meu, que eu sou do mundo. (Agora é a hora em que eu falaria sobre respirar cultura e estudar línguas, mas vou tentar trocar o disco). É verdade que a convivência internacional já não é novidade pra mim - a primeira vez que morei com um estrangeiro foi em 2005, quando uma intercambista americana morou lá em casa, em Bagé - mas nada disso diminui de forma alguma a enormidade e a importância de tudo que eu aprendi nesses quase dois semestres na França. Cada esquina do mundo é única.

Já é possível fazer uma retrospectiva da vida que estou vivendo aqui. Como eu sempre digo, é uma realidade paralela, é um sonho. Ela tem começo, meio e fim. Ontem eu saí da prova e fiquei sentada horas com o Marcel discutindo sobre assuntos polêmicos, nosso prato preferido. Fazia sol, a grama estava fofíssima e a brisa chegava gostosa. Ontem relembramos a gente, na semana do Natal, com -15ºC na Polônia, em Auschwitz, no dia mais cinza da minha vida. Eu não sentia meus pés, o coração tava apertado, o vento cortava o rosto. Lembro também de setembro, do exato momento quando mergulhei no Mediterrâneo pela primeira vez, junto da Natasha e da Marcela. Ou então, talvez o momento mais esperado da minha vida, a primeira vez que eu vi a Torre Eiffel - símbolo concreto da realização de um sonho -, com certeza a melhor experência que eu já tive na companhia de franceses. A primeira vez que vi a vista da minha janela aqui na minha casa na montanha. As randonnées, a neve, o calor, as festas, a Mari, a Lu, a Cíntia, os colombianos, a Bastilha, o Campus, a Ouest, a bicicleta, o tram, a place Grenette, a Victor Hugo, os sorteves, os crepes, o London Pub, as viagens, os lugares, as pessoas, os meus vizinhos, as comidas que eu preparei, as risadas, os prazeres, a dor, o choro, a alegria, as nuvens, a subida do Rabot, o Casino Gèant, os olhares, os momentos e as lembranças.

É impossível colocar em palavras tudo o que se sente durante uma experiência desse tipo. Só quem vive essa adrenalida e essa intensidade consegue imaginar. Até hoje estou esperando a coragem para escrever verdadeiramente sobre os Estados Unidos, sobre a América Latina e sobre a Grécia. Com certeza nunca conseguirei definir Grenoble também. As dúvidas são inevitáveis. Será que eu fiz certo? E se não tivesse sido assim? Mas a certeza é uma só: tinha que ter sido assim, essa é a minha experiência, esse foi o meu ano.

Foi difícil? Com certeza. E é por causa dessas dificuldades que hoje eu sou mais forte que ontem, estou mais madura e me conheço melhor. A melhor reflexão desse intercâmbio foi descobrir que a minha essência de quando eu comecei a estudar inglês com 6 anos, de quando eu fui para os Estados Unidos com 16 e hoje aqui, com 23 anos na cara, é exatamente a mesma. Mais velha, mais madura, mais inteligente, mais gorda, mas a mesma.

Eu já passei por isso, a despedida, duas vezes. Sobrevivi. Sei que vou sobreviver a minha partida de Grenoble. Tenho ainda um mês aqui para aproveitar tudo dessa cidade maravilhosa. Grenoble é incrível em todos os aspectos, mas outra hora eu explico o porquê. O que, infelizmente, eu não posso evitar é esse constante aperto no coração, essa nostalgia precoce, essa vontade insurportável de reviver os melhores momentos e estar perto das melhores pessoas. Foi, e está sendo, um ano mágico. Com certeza um dos melhores da minha vida.

Esse capítulo grenobloise vai terminar e minha vida vai seguir seu curso. Mesmo não conseguindo nunca definir o que esse ano significou, Grenoble vai estar sempre dentro de mim, nas minhas qualidades e nas melhores lembranças desse mundo.