Que frio, pensou ela durante toda a tarde. Que frio, que frio, que frio. Lendo as notícias do dia, o coração ia esfriando ainda mais. O mundo está perdido, mesmo. Preconceitos, injustiças e aquela tarde cinza, embalada pela chuva que não parava de cair há quatro dias. Quero meu pijama, minha cama e meu livro, dizia ela, emburrada e com os pés gelados. Seus medos e angústias quase sufocando suas entranhas.
Os detalhes são tudo na sua vida. Naquele momento, cada um deles contribuia para o mau-humor crescente. Segurando o guarda-chuva, era obrigada a tirar as luvas para atender o telefone. Bem capaz, não vou sair da minha rota, é cama e pijamas, deu, que frio. Caminhava a passos largos apesar de suas pernas curtas, cheia de raiva. Pisava em poças e o frio já emanava de dentro, não tinha como piorar.
Parou, olhou para o lado. Que estranho. Resolveu virar a esquina. Mudou o seu caminho, definiu o fim do seu dia. Não entendia muito bem o que estava fazendo. Chegou com a cara amarrada, franzindo as sombrancelhas, negando qualquer tipo de sorriso. Era noite e fazia ainda mais frio. Adentrou o café sem pensar em mudar sua atitude. Azar, tá frio e eu to triste, os médicos acabaram com o meu dia.
Durou uma hora. Um chá, um olhar, um carinho, algumas palavras. Ela se abriu, ela sorriu. Depois de um abraço com o poder de mudar o mundo, caminhando pela praça molhada e pela noite fria, viu seu coração quente de novo. De repente aquele cenário cinza ganhou cores. Os casacões compridos de inverno atestam: parece um filme do Woody Allen.
Uma respiração funda, um cafuné, uma despedida. Em casa, pensativa, sente o peso do seu coração e o calor que emana da felicidade. Os detalhes são tudo na sua vida e virar aquela esquina mudou o seu dia. Quem sabe amanhã, quando sair o sol, não terá medo de mudar seu caminho e virar a esquina, de vez.
Pensaleiro. Escrever poesia. Poetizar a escrita. Pensar ideias. Idealizar pensamentos. Pensaria.
Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.
terça-feira, 27 de agosto de 2013
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Um ano
Hoje faz um ano que cheguei na França. Um ano
do começo de um capítulo da minha vida que, mesmo já tendo terminado,
vai durar pra sempre. Cheguei no dia 23 de agosto de 2012 na região
Rhône-Alpes, que seria a minha casa por 10 meses, uma pessoa
bem diferente da que sou hoje. A essência segue a mesma, mas a Bebeth
que eu era há um ano já passou. Hoje olho pra trás, relembro com o
coração apertado e com lágrimas nos olhos dos momentos, das pessoas, dos
lugares e de cada instante dessa vida que vivi no meu terceiro
intercâmbio. O maior aprendizado dessa história foi sobre mim mesma.
Hoje sou mais feliz, mais confiante, mas certa das minhas prioridades,
mais madura. Minhas fraquezas continuam, mas a bagagem que carrego há 23
anos, cada vez mais pesada, me dá forças para seguir em frente dia após
dia. Ainda tem muita estrada no meu caminho, muitas histórias para
serem contadas, muita coisa para aprender. Mas hoje, revivendo um pouco
desse ano que passou, me vejo admirando da janela do meu quarto no Rabot
os alpes franceses. Me sinto tranquila mais uma vez, contente e pronta
para enfrentar o mundo.
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