A necessidade que tenho de colocar minha alma, o fundo de mim mesma na folha de um papel me chama a todo instante. Mas sou fraca e sou descrente. Penso que as humildes palavras minhas de nada adiantarão para a minha jornada. Porém nem as palavras dos sábios, dos que me inspiram eu tenho procurado. Estou parada, estou morta para os meus anseios. É preciso momentos como uma simples visita para acordarem-me e mostrarem-me que sou possível. Sou possível. O tempo é uma invenção dos que não são loucos. O tempo é uma questão de tempo. Terei tempo. Lerei. Escreverei. Acordarei.
Agradecimento pelas palavras que me tocam, que me acordam.
Tuas palavras me arrepiam a cada frase! Ao lê-las, ao te ler, a inspiração jorra dentro de mim, quero escrever o mundo, quero escrever a minha alma! Visito teu blog para lembrar-me dos meus desejos, dos meus anseios e da possibilidade de realizá-los. Tu tens o mundo e tu tens a palavra. Não foi por acaso que o sonho sul-americano que vivemos nos pôs no mesmo caminho por alguns instantes. Hoje eu sei, era para eu poder te ler, te sentir e me inspirar, me fazer crer. Só me resta agradecer sempre e esperar tranquila por tuas palavras, por tua vivência, por tua poesia que me dão um pouco mais de vida a cada leitura.
Pensaleiro. Escrever poesia. Poetizar a escrita. Pensar ideias. Idealizar pensamentos. Pensaria.
Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
terça-feira, 29 de junho de 2010
(im)publicação
Algo sobre minhas vontades e para as minhas amizades.
Aqui publico, passível de julgamento e tranquila de consciência.
Como seria se tudo o que eu penso e sinto fosse publicável? Que reações receberia de mim mesma? Como escrever pensamentos que, na teoria, são impensáveis? Momentos vividos na minha mente, na minha alma, mais verdadeiros que algumas lembranças. Dizer, escrever tudo aquilo que se passa dentro de mim, cada dúvida e certeza, cada vida e morte interior. É possível? Eu teria coragem de ler? Expor as sensações, o turbilhão de vida, de poema, de memória que sou. Todos que olhei, que toquei, que me olharam, que me tocaram. Todos que fazem parte dessa (im)publicação da minha vida. Tu fazes parte? Tu lerias?
Eu sou um pouco de cada um, me encontro nas lembranças, no passado e no presente. Divago sobre o futuro e ao terminar as linhas dessa folha de papel, minha companheira, deixo uma observação - escrita na parede do meu quarto -, para o amigo/irmão, também parte dessa estrada, @poli_quaresma:
"Desvario embora, lá tem seu método". - Quincas Borba ou Hamlet, vai saber.
Trago junto, no embalo, mais uma homenagem, comentário do comentário:
“Nossa amizade é unilateral” (!)(?)
Faço uma visita rápida pra deixar exposto a bi-unilateralidade da nossa amizade. Do meu lado eu te julgo, te aconselho e te admiro. Do teu lado tu me cede a tua amizade. Do meu lado, tu. Do teu lado, eu. Já disse várias vezes que pra mim, não importa o requinte, o tamanho do texto. Pra mim importa se me toca. Tu me toca sempre, tu passa exatamente o que tu sente, e me admiro que tu ainda insista em dizer que a nossa amizade é unilateral. Meu voto é sempre pra ti, apesar de todos os pesares. Beijos, até amanhã no meu blog. (ou agora)
Aqui publico, passível de julgamento e tranquila de consciência.
Como seria se tudo o que eu penso e sinto fosse publicável? Que reações receberia de mim mesma? Como escrever pensamentos que, na teoria, são impensáveis? Momentos vividos na minha mente, na minha alma, mais verdadeiros que algumas lembranças. Dizer, escrever tudo aquilo que se passa dentro de mim, cada dúvida e certeza, cada vida e morte interior. É possível? Eu teria coragem de ler? Expor as sensações, o turbilhão de vida, de poema, de memória que sou. Todos que olhei, que toquei, que me olharam, que me tocaram. Todos que fazem parte dessa (im)publicação da minha vida. Tu fazes parte? Tu lerias?
Eu sou um pouco de cada um, me encontro nas lembranças, no passado e no presente. Divago sobre o futuro e ao terminar as linhas dessa folha de papel, minha companheira, deixo uma observação - escrita na parede do meu quarto -, para o amigo/irmão, também parte dessa estrada, @poli_quaresma:
"Desvario embora, lá tem seu método". - Quincas Borba ou Hamlet, vai saber.
Trago junto, no embalo, mais uma homenagem, comentário do comentário:
“Nossa amizade é unilateral” (!)(?)
Faço uma visita rápida pra deixar exposto a bi-unilateralidade da nossa amizade. Do meu lado eu te julgo, te aconselho e te admiro. Do teu lado tu me cede a tua amizade. Do meu lado, tu. Do teu lado, eu. Já disse várias vezes que pra mim, não importa o requinte, o tamanho do texto. Pra mim importa se me toca. Tu me toca sempre, tu passa exatamente o que tu sente, e me admiro que tu ainda insista em dizer que a nossa amizade é unilateral. Meu voto é sempre pra ti, apesar de todos os pesares. Beijos, até amanhã no meu blog. (ou agora)
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Recuerdos de uma mochila - Copacabana
Acordamos cedo no dia seguinte, prontos para seguir viagem. La Paz tinha sido o início perfeito e ainda havia muitos quilômetros pela frente. Depois do último café da manhã no Loki, pegamos um ônibus simples para Copacabana - cidade que deu nome ao bairro carioca - a 155km de La Paz, na fronteira com o Peru e na beira do Lago Titicaca, o lago comercialmente navegável mais alto do mundo. A viagem, como a maioria, foi exuberante. Em alguns pontos do trajeto via-se o lago de um lado e os picos nevados da Cordilheira Real de outro*. É preciso atravessar uma parte de balsa para chegar à cidade. A vista é magnífica, o azul do lago possui uma intensidade que se mistura com o azul do céu, é imenso, rodeado de ilhas e suas águas se perdem no horizonte. Logo que fizemos a travessia, presenciamos um tipo de parada com uma banda boliviana e os indíos, soldados, enfim, marchando. Foi interessante.
A cidade de Copacabana é essencialmente turística, com a famosa Igreja de Nossa Senhora de Copacabana e o miradouro do morro do Calvário - que não conheci. Na rua principal só se pode ver pequenas agências vendendo passagens, principalmente para o nosso destino daquele dia, a Isla del Sol. Quando esperávamos na beira do lago, numa espécie de praia/pequeno porto, encontramos os paulistas e a alemã que haviámos conhecido numa noite no Loki La Paz, eles também estavam a caminho da Isla. Essa ilha é onde, dizem por aí, nasceu a civilização inca, quando o Deus Sol disse para seus filhos Manco Capac e Mama Ocllo se aquetarem um pouco por lá, antes de construir o império em Cusco.
Nosso transporte era um pequeno barco a motor, nos sentamos, obviamente, na parte de cima, no frio dos quase 4.000 metros de altitude e no sol durante quase duas horas. As consequências físicas dessa viagem seguiram comigo por vários dias... Chegamos na parte sul da ilha e fomos logo nos safando de pagar alguns bolivianos para as cholas que costumam se beneficiar dos turistas. Nos não pagamos graças às dicas dos amigos que fizemos em La Paz. Lá conhecemos mais duas paulistas e fomos todos os oito, em direção à parte norte da Isla. Nosso dinheiro boliviano estava no fim e como a parte norte é conhecida por ser mais barata e mais "roots", onde os jovens acampam, não hesitamos em partir minutos depois de termos chegado. Depois de mais uma hora viajando nas águas azuis do lago sagrado dos incas, chegamos à parte norte numa enseada.
Lá existe um pequena vila de índios quechua e aymara. Metade do grupo ficou responsável pelas mochilas, descansando na enseada enquanto a outra metade foi em busca de "habitaciones" com "ducha caliente" por poucos bolivianos. O que conseguimos, depois de muito subir e descer morros, foram dois quartinhos por uma miséria sem banho quente. Essa foi nossa primeira noite "acompanhados", as paulistas ficaram no quarto conosco. Depois de instalados, chegamos no outro lado da vila, onde havia uma praia e naquela hora lembrei muito de uns amigos bageenses. Era uma pequena praia de água doce, no lago sagrado, cheia de barracas e rodas de violão. O pessoal fazendo brincadeiras de circo, bem como os hippies na redenção, tinham porcos e burros caminhando e pequenas cholitas pedindo dinheiro. A paisagem era uma mistura do bizarro com o maravilhoso. O Dudu comprou umas Paceñas e logo nos aprochegamos com uns uruguaios, sentamos na areia, bebericando uma cerveja gostosa ao som do violão.. Os paulistas até tiraram um Chico Buarque no violão e aquele momento foi bonito.
Quando a noite e a temperatura começaram a cair, as coisas ficaram estranhas. Não havia postes de luz, andávamos com a lanterna do batom da Leila. Os índios nos olhavam como se fôssemos a atração principal da vila. Pretendiámos comer a famosa truta do lago, mas o dinheiro tava acabando e estávamos milhas e milhas e milhas e milhas de um caixa eletrônico. No final das contas, o Dudu economizou nas cervejas (hehe) e depois de comer uma "Salchipapa" (salsicha de procedência duvidosa com enormes batatas/tubérculos/gigantes fritas) por menos de um real, fomos num "restaurante" dividir uma truta. Era uma sala com três mesas e uma cozinha. As paulistas se enfiaram numa cozinha de barro, no pátio de uma casa e cozinharam uma massa, até hoje não entendo como e se aquilo deu certo. Eu tomei uma sopa de quínua bem gostosa e o Dudu e a Leila dividiram o prato que vinha a Truta. Lá conhecemos uma americana de meia idade que tinha tirado o ano, ou mais, para viajar pelas Américas. Batemos um papo ótimo, fora as discordâncias com um paulista do contra, e descobrimos que provavelmente o peixe que a gente comeu não era truta nem no Titicaca, nem na China. Oh, well. Passeamos um pouco pelo lual na beira da praia e logo voltamos para nossa "pousada" descansar.
Eu tava podre de cansada, sem banho, com a cara completamente queimada do sol, com o nariz escorrendo, mas extremamente contente e empolgada para fazer a trilha e ver as primeiras ruínas incas da viagem, no dia seguinte.
*Como diz no meu diário, escrito empolgadamente, no calor da hora: "de um lado o titicaca, do outro lado a cordilheira real e do outro lado o titicaca"
.
A cidade de Copacabana é essencialmente turística, com a famosa Igreja de Nossa Senhora de Copacabana e o miradouro do morro do Calvário - que não conheci. Na rua principal só se pode ver pequenas agências vendendo passagens, principalmente para o nosso destino daquele dia, a Isla del Sol. Quando esperávamos na beira do lago, numa espécie de praia/pequeno porto, encontramos os paulistas e a alemã que haviámos conhecido numa noite no Loki La Paz, eles também estavam a caminho da Isla. Essa ilha é onde, dizem por aí, nasceu a civilização inca, quando o Deus Sol disse para seus filhos Manco Capac e Mama Ocllo se aquetarem um pouco por lá, antes de construir o império em Cusco.
Nosso transporte era um pequeno barco a motor, nos sentamos, obviamente, na parte de cima, no frio dos quase 4.000 metros de altitude e no sol durante quase duas horas. As consequências físicas dessa viagem seguiram comigo por vários dias... Chegamos na parte sul da ilha e fomos logo nos safando de pagar alguns bolivianos para as cholas que costumam se beneficiar dos turistas. Nos não pagamos graças às dicas dos amigos que fizemos em La Paz. Lá conhecemos mais duas paulistas e fomos todos os oito, em direção à parte norte da Isla. Nosso dinheiro boliviano estava no fim e como a parte norte é conhecida por ser mais barata e mais "roots", onde os jovens acampam, não hesitamos em partir minutos depois de termos chegado. Depois de mais uma hora viajando nas águas azuis do lago sagrado dos incas, chegamos à parte norte numa enseada.
Lá existe um pequena vila de índios quechua e aymara. Metade do grupo ficou responsável pelas mochilas, descansando na enseada enquanto a outra metade foi em busca de "habitaciones" com "ducha caliente" por poucos bolivianos. O que conseguimos, depois de muito subir e descer morros, foram dois quartinhos por uma miséria sem banho quente. Essa foi nossa primeira noite "acompanhados", as paulistas ficaram no quarto conosco. Depois de instalados, chegamos no outro lado da vila, onde havia uma praia e naquela hora lembrei muito de uns amigos bageenses. Era uma pequena praia de água doce, no lago sagrado, cheia de barracas e rodas de violão. O pessoal fazendo brincadeiras de circo, bem como os hippies na redenção, tinham porcos e burros caminhando e pequenas cholitas pedindo dinheiro. A paisagem era uma mistura do bizarro com o maravilhoso. O Dudu comprou umas Paceñas e logo nos aprochegamos com uns uruguaios, sentamos na areia, bebericando uma cerveja gostosa ao som do violão.. Os paulistas até tiraram um Chico Buarque no violão e aquele momento foi bonito.
Quando a noite e a temperatura começaram a cair, as coisas ficaram estranhas. Não havia postes de luz, andávamos com a lanterna do batom da Leila. Os índios nos olhavam como se fôssemos a atração principal da vila. Pretendiámos comer a famosa truta do lago, mas o dinheiro tava acabando e estávamos milhas e milhas e milhas e milhas de um caixa eletrônico. No final das contas, o Dudu economizou nas cervejas (hehe) e depois de comer uma "Salchipapa" (salsicha de procedência duvidosa com enormes batatas/tubérculos/gigantes fritas) por menos de um real, fomos num "restaurante" dividir uma truta. Era uma sala com três mesas e uma cozinha. As paulistas se enfiaram numa cozinha de barro, no pátio de uma casa e cozinharam uma massa, até hoje não entendo como e se aquilo deu certo. Eu tomei uma sopa de quínua bem gostosa e o Dudu e a Leila dividiram o prato que vinha a Truta. Lá conhecemos uma americana de meia idade que tinha tirado o ano, ou mais, para viajar pelas Américas. Batemos um papo ótimo, fora as discordâncias com um paulista do contra, e descobrimos que provavelmente o peixe que a gente comeu não era truta nem no Titicaca, nem na China. Oh, well. Passeamos um pouco pelo lual na beira da praia e logo voltamos para nossa "pousada" descansar.
Eu tava podre de cansada, sem banho, com a cara completamente queimada do sol, com o nariz escorrendo, mas extremamente contente e empolgada para fazer a trilha e ver as primeiras ruínas incas da viagem, no dia seguinte.
*Como diz no meu diário, escrito empolgadamente, no calor da hora: "de um lado o titicaca, do outro lado a cordilheira real e do outro lado o titicaca"
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sexta-feira, 4 de junho de 2010
Recuerdos de uma mochila - La Paz IV
O dia seguinte foi nosso último dia na "capital" da Bolívia. Levantamos e tomamos um café da manhã tranquilo - pão com geléia e chá de coca. Nossos pulmões já estavam relativamente acostumados com a altitude. Saímos para procurar uma máquina fotográfica, já que a minha havia estragado no Chacaltaya. Os guris nos mostraram um bairro onde eram vendidos aparelhos eletrônicos. Fomos caminhando pela cidade, subindo e se afastando do centro turístico. Chegamos num ponto onde eram vendidas as coisas para os locais. Lá tinham as saias, os sapatos, chapéus e tudo o que as cholas usam. Tentei convencer a Leila a comprar uma saia de chola comigo, mas não rolou. Depois de muito procurar chegamos num bairro bem interessante por assim dizer. Eram como camelôs enormes, mas que vendiam somente eletrônicos. Televisões de plasma, sons, telefones, filmadoras, e por aí vai. Demorei pra encontrar a máquina que resolvi comprar, mas penso que fiz um bom negócio. Não sei se mencionei que o real é bem valorizado na Bolívia, ou seja, as coisas são muito baratas. Nessa hora já havia passado do meio dia e estávamos morrendo de fome. Estávamos voltando para o centro e encontramos os nossos companheiros cariocas e catarinas. O Dudu resolveu comprar um mochilão enquanto todo mundo ia fazendo mais algumas comprinhas. Andamos de um lado para outro até resolver almoçar o prato do dia de um restaurante simples lá no centrão com cardápio escrito em hebraico. O almoço foi ótimo, eu estava com máquina fotográfica de novo, feliz, enchendo o saco dos outros com a minha alegria, tava passando uma tourada na televisão e a gente comeu bem por pouco. Engraçado e divertido? Sempre.
De tarde exploramos mais o marcado das bruxas, hesitei em comprar uma múmia de lhamita para enterrar no terreno de casa, mas não comprei. O colorido daquelas ruelas me surpreendiam a todo instante, é apaixonante. Perambulamos por todos os lados na Calle Sagárnaga tentando encontrar uma passagem barata para Copacabana, na beira do lago Titicaca, nosso próximo destino. Encontramos. Ainda fomos no banco, nas casas de câmbio e no el prado, uma rua mais chique, por assim dizer, da cidade.
De volta no albergue ficamos batendo papo com o pessoal de Brasília que iria embora no outro dia. Na verdade quase todos estavam indo embora no outro dia. Arrumamos as coisas no quarto e descansamos um pouco - fazendo bobagens, brincando, discutindo e se não eu ou a Leila, sempre o Dudu rindo. Ele estava meio que completamente de ressaca então nem jantou, eu e a Leila comemos um mega sanduiche com papas fritas assistindo o casal sueco jogar um estranho jogo de cartas. Todos os dias e todo o tempo o casal estava jogando cartas. Vício. De noite teve uma festa a fantasia no albergue e foi muito engraçado ver o pessoal fantasiado. Nossa última noite foi certamente marcada por dois malas que encontraram nosso grupo brasileiro. Um carioca - de Niterói merrrmão e um mineiro que estavam podre de bêbados e só nos fizeram rir. A primeira parte da viagem havia chegado ao fim, foi meio nostálgico e triste me despedir dos primeiros amigos, anjinhos que encontramos na viagem. O mochilão é feito de pequenos momentos, dos lugares que visitamos, das sensações que sentimos e das pessoas que conhecemos. Naquela noite agradeci, como todos os dias, mas especialmente pelo início perfeito que tivemos na nossa viagem. E ela estava apenas começando.
De tarde exploramos mais o marcado das bruxas, hesitei em comprar uma múmia de lhamita para enterrar no terreno de casa, mas não comprei. O colorido daquelas ruelas me surpreendiam a todo instante, é apaixonante. Perambulamos por todos os lados na Calle Sagárnaga tentando encontrar uma passagem barata para Copacabana, na beira do lago Titicaca, nosso próximo destino. Encontramos. Ainda fomos no banco, nas casas de câmbio e no el prado, uma rua mais chique, por assim dizer, da cidade.
De volta no albergue ficamos batendo papo com o pessoal de Brasília que iria embora no outro dia. Na verdade quase todos estavam indo embora no outro dia. Arrumamos as coisas no quarto e descansamos um pouco - fazendo bobagens, brincando, discutindo e se não eu ou a Leila, sempre o Dudu rindo. Ele estava meio que completamente de ressaca então nem jantou, eu e a Leila comemos um mega sanduiche com papas fritas assistindo o casal sueco jogar um estranho jogo de cartas. Todos os dias e todo o tempo o casal estava jogando cartas. Vício. De noite teve uma festa a fantasia no albergue e foi muito engraçado ver o pessoal fantasiado. Nossa última noite foi certamente marcada por dois malas que encontraram nosso grupo brasileiro. Um carioca - de Niterói merrrmão e um mineiro que estavam podre de bêbados e só nos fizeram rir. A primeira parte da viagem havia chegado ao fim, foi meio nostálgico e triste me despedir dos primeiros amigos, anjinhos que encontramos na viagem. O mochilão é feito de pequenos momentos, dos lugares que visitamos, das sensações que sentimos e das pessoas que conhecemos. Naquela noite agradeci, como todos os dias, mas especialmente pelo início perfeito que tivemos na nossa viagem. E ela estava apenas começando.
Recuerdos de uma mochila - La Paz III
Chegamos no albergue cansados e felizes. O banho, como sempre, reconfortante e o cansaço pedia a cama. Mais tarde descemos para jantar com os outros brasileiros, tinha carioca e catarina. Como podia se esperar o fogo não funcionou direito na cozinha para os hóspedes então tivemos que esperar para poder usar a cozinha do hostel mesmo. Nesse meio tempo demos risada e conhecemos um pouco mais o pessoal. A espera valeu muito a pena, o catarina Marlon, que tive a sorte de encontrar, é um cozinheiro de mão cheia e com certeza aquela massa carbonara tão esperada entrou pra lista dos melhores pratos que eu já comi. Depois da janta fomos para o bar "hang out". Era hora de provar as bebidas. Nem acreditei quando vi que eles tinham Jägermeister lá! É uma bebida extremamente interessante que se toma com energético nas chamadas Jäger bombs, essas bombas definitivamente marcaram meu intercâmbio lá nos Estados Unidos. Mas, infelizmente as bombas estavam muito caras então preferimos Tequila Sunrise. DELÍCIA. Tequila + coisa doce, poderia ser melhor? Enquanto eu me deliciava com o coquetel o Dudu começou uma empreitada de provar todas as cervejas do bar, o que obviamente não acabou muito bem. A cerveja de La Paz, a Paceña é realmente muito boa e foi o que tomamos mais. O clima era ótimo, gente de todos os lugares do mundo, completamente ou parcialmente loucos, curtindo ao máximo. Nos juntamos com creio que todos os brasileiros do albergue e dançamos, pintamos e bordamos. Encontramos um paulista que mora aqui em Porto Alegre, com a minha colega de trabalho. Oi? Rimos das estrangeiras duras dançando, rimos dos bartenders, dos sotaques, dos borrachos, rimos da vida, rimos do mundo. Falávamos em português, espanhol, inglês, portunhol, javanês e por aí vai.. Depois de um tempo a Leila e o Dudu já estavam tomando coca com rum e sei lá o que mais. O melhor da noite foram os dois trêbados fazendo eu rir no quarto. Quando o bar fechou, no início da madrugada, um pessoal partiu pra uma festa e nos voltamos para o quarto, tendo gastado o dobro do previsto na noite, mas se divertido o dobro também.
Tequila Sunrise
Brasileiros no Loki Hostel
Paceña - es cerveza
Tequila Sunrise
Brasileiros no Loki Hostel
Paceña - es cerveza
Recuerdos de uma mochila - La Paz II
Acordamos cedo, estava frio, colocamos todas as roupas possíveis e fomos tomar café. Pão com geléia e chá nos acompanharam durante toda viagem. Enquanto o Dudu e a Leila terminavam o café eu fui pro saguão esperar nosso guia e pela primeira vez na viagem escutei português que não veio de nós 3. Era um casal e mais um amigo de Brasília. Eu pensava que o mais interessante seria os papos estrangeiros, as pessoas dos outros países... mas na verdade o melhor da viagem foi todos os outros brasileiros que encontramos. Cada um de um canto e todo mundo junto com o mesmo objetivo, trocando experiências, ajudando uns aos outros e aproveitando cada minuto. Aprendi a gostar dos outros sotaques (menos o nordestino, né). Com eles peguei várias dicas de albergues no Chile e pra viagem em si, La Paz era a última parada deles e a nossa primeira. Dudu e Leila sairam pra comprar um remédio pra altitude, afinal tínhamos chegado um dia antes, nossos pulmões ainda não estavam acostumados. Um pouco depois, ainda esperando o guia, mais dois brasileiros. No final das contas nossa trupe para o Chacaltaya era essencialmente brasileira. Nós 3, mais 5 e um casal europeu/asiático. O monte ficava a alguns quilômetros da cidade e ainda paramos para comprar bolachas e folhas de coca. Os guris nos ensinaram a mastigar e acredito que isso nos salvou lá em cima.
Esse dia com certeza foi um dos mais especiais da viagem. Vi pela primeira vez as queridas alpacas e lhamas, até guanacos. Os guris iam contando histórias da viagem deles, que também estava no fim enquanto só me restava imaginar o que nos esperava no resto da viagem. Fui rindo, sempre meio tonta e estupefata com a paisagem ao nosso redor.
Os picos da cordilheira rodeavam os campos onde passávamos e logo começamos uma subida íngrime na beira de um penhasco, em direção ao nosso destino. Acontece que na noite anterior havia nevado muito o que acabou impossibilitando nossa pequena kombi de subir inteiramente o Chacaltaya. O Dudu e a Leila estavam na neve pela primeira vez.
De repente estávamos nós 3, afoitos, subindo o Chacaltaya a pé. O Dudu não negou raça e logo nos passou. Eu e a Leila ficamos pra trás, tirando fotos, e sofrendo com o pulmão apertado.
Fomos até o nosso limite. Aliás, o meu limite, a Leila poderia ter continuado, estávamos acima dos 5.000 metros de altitude. Outro grupo nos passou e nos sentamos para descansar. Nessa hora a minha máquina fotográfica pifou, estragou de vez. Mas isso foi o único detalhe negativo do dia. Fizemos a Tessália, nossa boneca de neve, fizemos anjinho na neve e pulamos como crianças. Quando a neblina começou a descer eu disse "Leila, vai nevar para a gente". Nevou.
Com certeza essa é uma das melhores lembranças da viagem. Eu e a minha amiga pulando, morrendo de rir, sentindo o máximo daquele momento, comendo neve, congelando os pés, enfim, só diversão, pura alegria. Fomos voltando para a kombi e entramos para tentar descongelar os pés e comer bolachas. Sensação inexplicável.
O resto do grupo voltou, vibrando por ter chego no topo e seguimos caminho. Paramos num miradouro e a visão da cidade da paz foi indescritível.
Descemos de volta a cidade e passamos pela parte rica, onde realmente parecia uma cidade como outra qualquer, La Paz é mesmo uma cidade de extremos e exótica ao máximo. Pouco tempo depois do frio congelante da Cordilheira estávamos de camiseta de manga curta andando rápido pelo Valle de la Luna. Formações rochosas surpreendentes que realmente faziam crer estar na lua.
Um momento especial foi quando um índio no topo de uma das rochas tocava uma melodia suave com aquelas flautas latinas. Foi incrível. Nossa guia falava em espanhol sobre geografia, história, lendas, enfim. Os cactus eram enormes, de deixar o meu pobre Damian lá embaixo. Bueno, combinamos uma janta e voltamos para o albergue, o dia ainda não tinha acabado.
Esse dia com certeza foi um dos mais especiais da viagem. Vi pela primeira vez as queridas alpacas e lhamas, até guanacos. Os guris iam contando histórias da viagem deles, que também estava no fim enquanto só me restava imaginar o que nos esperava no resto da viagem. Fui rindo, sempre meio tonta e estupefata com a paisagem ao nosso redor.
Os picos da cordilheira rodeavam os campos onde passávamos e logo começamos uma subida íngrime na beira de um penhasco, em direção ao nosso destino. Acontece que na noite anterior havia nevado muito o que acabou impossibilitando nossa pequena kombi de subir inteiramente o Chacaltaya. O Dudu e a Leila estavam na neve pela primeira vez.
De repente estávamos nós 3, afoitos, subindo o Chacaltaya a pé. O Dudu não negou raça e logo nos passou. Eu e a Leila ficamos pra trás, tirando fotos, e sofrendo com o pulmão apertado.
Fomos até o nosso limite. Aliás, o meu limite, a Leila poderia ter continuado, estávamos acima dos 5.000 metros de altitude. Outro grupo nos passou e nos sentamos para descansar. Nessa hora a minha máquina fotográfica pifou, estragou de vez. Mas isso foi o único detalhe negativo do dia. Fizemos a Tessália, nossa boneca de neve, fizemos anjinho na neve e pulamos como crianças. Quando a neblina começou a descer eu disse "Leila, vai nevar para a gente". Nevou.
Com certeza essa é uma das melhores lembranças da viagem. Eu e a minha amiga pulando, morrendo de rir, sentindo o máximo daquele momento, comendo neve, congelando os pés, enfim, só diversão, pura alegria. Fomos voltando para a kombi e entramos para tentar descongelar os pés e comer bolachas. Sensação inexplicável.
O resto do grupo voltou, vibrando por ter chego no topo e seguimos caminho. Paramos num miradouro e a visão da cidade da paz foi indescritível.
Descemos de volta a cidade e passamos pela parte rica, onde realmente parecia uma cidade como outra qualquer, La Paz é mesmo uma cidade de extremos e exótica ao máximo. Pouco tempo depois do frio congelante da Cordilheira estávamos de camiseta de manga curta andando rápido pelo Valle de la Luna. Formações rochosas surpreendentes que realmente faziam crer estar na lua.
Um momento especial foi quando um índio no topo de uma das rochas tocava uma melodia suave com aquelas flautas latinas. Foi incrível. Nossa guia falava em espanhol sobre geografia, história, lendas, enfim. Os cactus eram enormes, de deixar o meu pobre Damian lá embaixo. Bueno, combinamos uma janta e voltamos para o albergue, o dia ainda não tinha acabado.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Recuerdos de uma mochila - La Paz
No caminho para o hostel não foi possível dar uma boa olhada na cidade. O que vi foram muitas ladeiras e pra variar, buzinas. O prédio do Loki Hostel é antigo e bonito, a sensação de finalmente chegar lá foi de puro alívio. Havia um bar, vários lugares para "hang out", inclusive um "bar de oxigênio". O nosso quarto era triplo e já estava reservado. Deixamos nossas mochilas numa pilha junto com outras e fomos tomar café da manhã no bar enquanto esperávamos para fazer o check-in. Tomei o meu primeiro chá de coca e foi reconfortante, comemos uma comida boa e apesar da nossa sujeira e cansaço, a felicidade era plena. Mochileiros, jovens, velhos, guris e gurias por todos os lados, o ar descontraido do albergue tomou conta da gente. Nosso quarto era o máximo, logo montamos nosso varal, guardamos as coisas e tomamos um merecido, maravilhoso e refrescante banho. O primeiro passo foi planejar o passeio do dia seguinte, num pico da Cordilheira dos Andes, o Chacaltaya. Logo depois, saimos para passear pelo centro, comprar bugigangas e roupas para o frio. Uma mistura de cores e pessoas tomavam conta do ambiente. Naquele instante, em meio a quinquilharias lindas, feita pelos indígenas, vendo os prédios colonais e a ordem dentro do caos, La Paz me encantou. Fomos com tanta vontade atrás dos blusões e das tocas que nem lembramos que estávamos a quase 4.000 metros de altitude. Cada passo era um desafio, ao respirar a sensação era que não havia ar suficiente. A pressão do Dudu baixou, estávamos os três tontos, pela altitude e pelo momento que estávamos vivendo. Caminhamos por vários cantos da cidade e voltamos para jantar no albergue as maiores "papas fritas" que eu já comi. Papeamos, demos boas risadas com alguns estrangeiros e penamos para subir os dois andares até nosso quarto. Fomos dormir meio cedo, depois das rotineiras palhaçadas, enfim numa cama boa e aconchegante.
primeiro almoço no albergue
nosso varal
mercado das bruxas
loki hostel
primeiro almoço no albergue
nosso varal
mercado das bruxas
loki hostel
Recuerdos de uma mochila - Indo para La Paz
A viagem para La Paz merece um post especial. Do pequeno hostel em Santa Cruz de la Sierra partimos para o Terminal de Buses numa kombi caindo aos pedaços, lotada, repleta, cheia de cholas e pequenos bolivianos mais nós 3 e nossas mochilas. Posso dizer que esse trajeto foi nossa primeira aventura, uma pobre boliviana levou várias mochiladas na cara, uma criancinha cholita quase levou embora o macaco da minha bolsa e eu ainda não sei como conseguimos sair daquela kombi e como não morremos asfixiados ou esmagados, ou sei lá.
No terminal corremos para onde o onibus iria sair com nossas mochilas e sem saber que tinha que pagar uma taxa de embarque. Nessa hora encontramos os primeiros mochileiros que nos deram uma mão, explicaram onde tínhamos que pagar (esse é um costume normal lá, pagar uma pequena taxa de embarque) e onde deixar as mochilas, no balcão da companhia do nosso ônibus. Bom, a gente tinha pagado um pouco mais para ter um bus super bacana, dois andares, com só três poltronas por fila, afinal eram 18 horas até La Paz nas estradas bolivianas subindo a serra/cordilheira/montanhas, enfim, subindo. Os nossos lugares eram lá no final do corredor, estávamos achando o máximo............. Até começar a viagem.
No entardecer a paisagem era comum, nos arredores de Santa Cruz, eu estava na janela e quando fui deitar a minha poltrona bus cama, descobri que ela tava estragada e ficava subindo. Sim, ela deitava e aos poucos ia voltando pra posição inicial. Ela não ficava deitada. 18 horas de viagem. A poltrona não ficava deitada. Deu pra entender?
Quando anoiteceu, tudo mudou. Cholas e bolivianos começaram a entrar no ônibus e a se sentar e deitar no corredor. A Leila acordou com um boliviano - que ficou conhecido como Lhama - deitado no nosso lado, comendo nossas bolachas. A parada da noite pode ser resumida em uma palavra: bizarra. Era uma construção não totalmente construída, com umas cholas vendendo alguma gororoba numa panela, uma banquinha (ainda bem) com refri e bolachas e um "banheiro", que tinha que pagar pra usar, obviamente. Essa parte que chamavam de "baño" era uma sala com cabines com um buraco no chão. Aham, um buraco no chão. A Leila tem fotos. Tomamos uma coca, compramos algumas "oreos" e outras bolachas e observamos, refletimos um pouco. Estávamos apavorados no bom e no mal sentido.
Troquei de lugar com o Dudu pra descobrir que a poltrona dele também subia de volta, não tanto quanto a minha, então deu pra dar uma dormida. Costumávamos dizer que tínhamos "nascido pra isso" e que o soroche, o mal da altitude, não iria nos afetar. Não sentimos a subida, mas na manhã do dia seguinte a paisagem era deslumbrante! Estávamos em meio a montanhas, passando por penhascos e o sol batia nelas e o tom dourado era incrível. E a subida continuava.... Passamos por inúmeros povoados marrons só com EVO escrito nas paredes e pelos famosos gasodutos da Bolívia. Eu comecei a sentir um pouco de dor de cabeça e a Leila já estava mais pra lá do que pra cá. A segunda parada foi um pouco melhor, era perto de um povoado e a Leila vomitou, hehe. Chegamos a conclusão que tínhamos nascido mais ou menos pra isso. O Dudu tentou dar um caô na chola da venda e ela chingou ele em português. Bem feito. Já estávamos um trapo e ainda tinha mais algumas horas de viagem. A paisagem era tipo dos campos de cima da serra e o Dudu e a Leila já tinham avistado umas lhamas ou alpacas, eu ainda não. Não aguentávamos mais comer bolachas........... seguíamos viagem.
La Paz fica num vale, rodeada de montanhas e picos nevados. O centro e a parte rica da cidade ficam lá embaixo e as construções mais pobres, algo como favelas iam subindo "o morro" e lá em cima, antes de descer, fica uma cidade relativamente nova, a 4.100 metros de altitude, El Alto. A cidade é repleta de construções não acabadas e extremamente marrom. O trânsito pra variar é um caos e a buzina domina.
Depois de mais de 19 horas no bus, chegamos a La Paz. Fomos descendo, entrando no vale, a visão espetacular daquela enorme cidade no meio das montanhas. O Dudu e a Leila viram neve pela primeira vez de longe. Completamente tontos tivemos que descer entre vários ônibus chegando e saindo. Cambaleamos até um taxi e demos o endereço do Loki Hostel. Finalmente na querida La Paz, a 3.660 metros acima do nível do mar.
Subindo - Baño
cansados, sujos e tontos - indo para La Paz
Subindo - Baño
cansados, sujos e tontos - indo para La Paz
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