"Mãe, é a Grécia."
Quando decidi fazer mais uma viagem nas férias, dessa vez para realizar algum tipo de trabalho voluntário, meu primeiro pensamento foi, com certeza, algum país da minha querida América Latina. Algum lugar na África veio logo depois, mas os medos corriqueiros da minha madre não deixaram eu dar o próximo passo. Desse meu jeito, quem sabe concorda, eu iria para qualquer esquina do mundo. Sou feita de dúvidas e falhas, mas a única certeza que nutro desde a alma é a paixão pela cultura, com todos os significados que ela possui.
Quando, ao mergulhar em sonhos na infinidade de vagas oferecidas pela AIESEC avistei, ao longe, por puro acaso, um lugarzinho numa ilha na Grécia, meu coração aqueceu. "Mãe, é a Grécia." Simples, assim. A gente não precisa de motivos para querer ir à Grécia. A Grécia é a Grécia, ponto final.
Mal sabia eu, que ao convencer minha mãe com aquele ponto final, eu estaria recém dando ínicio à uma história que ainda não sei se vai ter algum ponto final. Mal sabia eu, de novo, a amplitude de significados que a simples frase "é a Grécia" iria ter na minha vida.
Hoje é o primeiro dia que tomo coragem para tentar escrever sobre a tal Grécia desde que voltei ao Brasil. Não tenho certeza se já estou pronta para tal empreitada, mas sinto que é chegada a hora.
Depois de me atrever a viver um ano nos Estados Unidos lá nos idos de 2006-2007, de ter aprendido apesar de todas as dificuldades que uma vida sozinha proporciona - e depois de ter me aventurado pela geografia maravilhosa da América do Sul de mochila nas costas, aceitando o mundo de peito aberto - uma viagem à Europa, durante as férias, parecia algo quase de tia turista dondoca.
A Grécia mudou minha vida. Pensava humildemente que, com a sorte de ter podido viajar um bocado por aí, já estaria acostumada com o que quer que fosse. Não. A cada lugar novo, o coração pulava de feliz - a cada palavra em outra língua (principalmente tentando pronunciar as vogais em árabe), o sangue fervia de feliz - a cada amigo que eu fazia, o sorriso aumentava - a cada comida que eu provava, a barriga aumentava (mas feliz). A cada vez que eu me dava de cara com a História ali frente a frente, me olhando como se dissesse: "Bebeth, olha eu aqui, esse monumento de mais de 2.000 anos." "Bebeth, corre aqui, foi onde surgiu a democracia." "Bebeth, isso aqui é grego." "Bebeth, não! Isso aqui é turco!" "É grego!" "É turco!"
Foram dois meses vivendo de História interessantíssima, de queridos amigos, de comida amplamente deliciosa, de cultura rica demais, de um trabalho que me dava esperança, de lugares de tirar o fôlego, de um país que se tornou a minha segunda casa.
Dessa experiência, somente restaram lembranças maravilhosas. Tudo deu certo. Esse sentimento de dever cumprido, de ter dado o melhor de mim, de ter aproveitado o máximo e de ter aprendido e amadurecido como nunca, é incrível. A conclusão que tirei dessa experiência é a certeza de sempre querer melhorar, em todos os aspectos, sempre.
As histórias dessa viagem, inúmeras e lindas, ficarão para uma outra hora. Aos poucos tentarei organizar meus pensamentos e lembranças.
Decidi não revisar esse texto e publicá-lo assim, no calor do momento.
Hoje, de volta, me sinto feliz demais rodeada das pessoas que amo e que me fazem bem. Mas um pedacinho de mim segue lá perto do Mar Egeu. Não simplesmente porque é a Grécia, mas porque é a minha Grécia, lugar onde vivi momentos que marcaram para sempre a minha trajetória por aí.