Compreender cada gesto. Ler o pensamento pelo jeito que ele
fecha os olhos levando a mão ao rosto. O modo como a mão acaricia a recém-chegada
barba. Como ele ajeita várias vezes cada cacho do seu cabelo. O modo como
caminha apressado. A forma como ele se expressa, a voz e a fala. Cada expressão
e gíria, as antigas e as recentes. Os dois, meus favoritos, tipos de sorriso. Aquele mais tranquilo, cheio de carinho. E o
sorriso que é capaz de iluminar o mundo com a sua alegria. A gargalhada irônica
e a inesperada. As interjeições e a maneira como se agita quando é surpreendido
pela falha alheia. O jeito único de como toca na minha mão. Fecho os olhos e o
sinto apertando minhas bochechas. O abraço e a maneira como falava com a voz
suave para me agradar. Irritado, respira fundo, abaixa a cabeça e tenta ter
calma. Fala alto e nega. Não gosta de ser interrompido. Reconhecer praticamente
todas as assinaturas do seu corpo, do seu rosto e do modo como ele me olha e
fala. Uma sensação de estar em casa. Em quase um ano, ainda ardo de saudades.
Vejo um refúgio, meu lugar seguro e exatamente onde quero estar em cada um
desses detalhes. O que dói é saber identificar cada aspecto externo dele junto
da angústia da falta de possibilidade de descobrir o que, de fato, se passa lá
dentro.
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