Já me disseram que eu não sei criar raízes, que eu só penso
em ir embora. Nunca sei se consigo explicar como eu sou, como eu crio raízes
eternas em cada lugar que conheço, com cada pessoa que me toca. Não sei se um
dia vou ter a certeza de que essa é a melhor opção, essa coisa de ir e vir, o
desejo eterno de ir embora, mas essa é a minha única opção. Essa sou eu e só
assim consigo sentir-me completa e verdadeiramente eu. Eu.
Não é fácil. Eu convivo há anos, precisamente desde 2006,
com uma palavra de significado dolorido, um advérbio denso. Longe. Eu escolhi
uma vida de chegadas e partidas, sou jovem, porém, já carrego uma bagagem pesada,
três intercâmbios, vinte e dois países, inúmeras viagens, uma Porto Alegre e incontáveis
amores e amigos. Já fui definida por muita gente por uma palavra de igual peso.
Intensidade. Eu e essa intensidade rodamos o mundo e o bairro encontrando
pessoas, conhecendo almas, vivendo histórias e sendo tocadas lá no fundo por
mentes brilhantes e conversas interessantes, que fazem pensar.
Há poucos ou muitos oito anos eu venho apresentando-me e
despedindo-me desses lugares, dessas histórias e especialmente dessas pessoas
que moldam a minha vida, a minha história. Três dias, dois meses, um ano, 24
anos. A maioria delas são pessoas que eu escolhi conhecer, escolhi deixar que
me tocassem, que se tornassem personagens essenciais na minha trama, no enredo
da minha vida. Cada uma contribuiu e ainda contribui em algum aspecto nessa eterna
jornada de autoconhecimento, por mais clichê que essa frase pareça. Amigos,
paixões de um dia e amores eternos que entraram, saíram e mesmo assim ficaram.
Cada despedida, no lugar de tornar essas experiências efêmeras, as tornam
infinitas, presas no presente constante do meu coração, nas lembranças eternas
e nas marcas visíveis e invisíveis que deixam em mim, ao tocarem a essência do
meu ser.
Longe. Cada pessoa que se vai, mesmo para voltar, cada vez
que eu vou, mesmo para voltar, cada vez que eu sei que nunca mais voltarei, é
mais um longe para carregar. A bagagem quase sobrecarrega, e a mente dói de tanta
informação para processar. Entretanto, o mais complicado é o peso do pobre coração
viajero. Ele sente falta, ele se angustia, ele quer o presente eterno, ele
escolheu essas pessoas a dedo e não consegue lidar com esse longe que teima em
chegar sempre, a cada viagem, a cada história, a cada despedida. E vejam bem,
eu nem pude falar em saudade, porque aí a mão treme no teclado e trava.
É a minha escolha, porque essa sou eu. Nessas histórias, nas
esquinas do mundo e nas esquinas do Bom Fim (ou Rio Branco), eu me liberto
completamente. Não preciso olhar para trás, eu só sou, só existo, de forma
pura, sem medos, sem pensar na autoestima, sem olhar para o lado. Minha
essência autêntica se mostra para essas pessoas especiais que cruzam o meu caminho,
aqui ou lá. Elas me tocam e eu me mostro, cheia de falhas, inacabada, mas, de
alguma forma, completa.
Completa por cada uma dessas almas que me tocaram, me
alimentaram, iluminam minha caminhada, e me dão forças para continuar a eterna viagem.
Todas essas, mesmo longe, estão sempre perto.
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