Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Formato Mínimo de uma noite em Paris

Meu gosto por proparoxítonas e tua vontade de ler algum devaneio meu sobre qualquer coisa que poderia ter acontecido me ocorreram ao escutar essa música, rodeada de proparoxítonas e passível de inúmeras interpretações. Aqui além de interpretar ela, me atrevo a interpretar ele também. Um conto feito da música, das proparoxítonas e de um desejo franco, francês.

"Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima"

Súbito foi o encontro dos dois, na neve, no frio francês, dois viajantes em busca de aventuras diferentes.
Ótima a noite em que conversaram, se conheceram um pouco melhor. Ele não entendia ela, ela não entendia ele mas a compreensão e o encanto eram mútuos.
Príncipe ele não era.
Próxima ela estava cada vez mais dele.


"Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo"

Óculos que ela não usava, que deixava claro seu olhar tímido porém insinuante mesmo sem querer.
Vírgulas em meio a frases mal(ou bem) ditas, conversas cruzadas, português, francês, inglês e desejo.
Ácido aqui seria o sotaque dele, porque ela realmente achou aquilo um
Máximo.


"Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos, gozaram rápido"

Ásperos com certeza não seria o toque dos lábios dos dois. Íntimo, único e lírico aqui seriam proparoxítonas mais adequadas.
Fôlego ela já não tinha quando via ele de longe, quando o escutava e quando ele chegava mais perto.
Trôpegos? Só ela. No mínimo uma noite indizível.
Ávidos, com certeza.


"Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida"

Álibis não existiam, nesse cenário não haviam desculpas para não acontecer. Os dois se entregaram sem hesitar.
Lépida, sim. Ela ficava, era, flutuava mais que lépida ao lado dele.
Pânico, ele se deixou levar, ela não era mais somente a próxima.
Lívida era a vontade de ambos. Vontade em todos os sentidos, de tudo, de compartilharem os míseros detalhes de cada um e de cada momento.


"O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela, o súdito
Desenhou-se a história trágica"

Ínfima as diferenças e as consequências daquele encontro, naqueles instantes.
Dádiva para os dois.
Súdito ele se declarou, sem pensar no dia seguinte.
Trágica talvez fosse a tendência para o desfecho desse conto.


"Ele, enfim, dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo, a vítima"

Apático, aqui não.
Cálida era a noite em Paris, mas eles dormiram aquecidos, quentes.
Tímida ela acordou, sabendo o que viria a seguir.
Vítima do desejo, ela partiria daqui a pouco, assim como ele.


"Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico"

Rápido arrumou-se e partiu para seguir viagem.
Tétrico, triste e surpreso ele sentiu-se.
Épico o que tinham vivido, porém cada um seguiria seu caminho.
Cínico seria tentar mudar o destino que os esperava.


"Para ele, uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão, a rúbrica"

Típica a noite, mas não o sentimento.
Mínimo formato do amor, não naquela noite. Lá havia tomado outra forma.
Clínico e selvagem o encontro de seus corpos. O encontro da alma, poesia.
Rúbrica de uma história de uma noite só.

Um romance de um dia, uma lembrança de uma vida toda.



*Paris aqui representa qualquer lugar que habite a tua memória, só se deixar levar.

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