Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Recuerdos de uma mochila - Isla del Sol

Nossa viagem se passou durante o período de chuvas na região andina do Peru e da Bolívia, chuva que impediu nossa visita à Machu Picchu mas que atrapalhou muito pouco nosso trajeto. Sem contar nosso segundo dia na Isla del Sol. Acordamos de manhã cedo preparados para fazer a trilha na ilha e nos deparamos com um temporal de uma intensidade frustante. Eram 8 horas da manhã, não saimos da cama e eu comecei a pensar na Pachamama, que nos protegeu durante toda viagem.
9 horas da manhã e a chuva seguia, a gente ainda não tinha saido do quarto, eu não podia acreditar, tínhamos que pegar o barco para a parte sul no início da tarde. Mas como eu já disse, Pachamama nos acompanhou durante todo o tempo e antes das 10 da manhã a chuva cedeu espaço para alguns poucos raios de sol e nuvens de todas as formas. Nos vestimos e saimos em busca das primeiras ruínas - e as que mais me tocaram - da viagem.
No início do caminho econtramos, ou melhor, fomos encontrados por uma cadela que nos acompanhou durante todo trajeto, saltitando e correndo pela trilha. Apelidamos nossa companheira fiel de Tessália, afinal naquela época tudo era uma Tessália. A trilha era de tirar o fôlego, literalmente, tanto pela subida quanto pela paisagem. A cada passo minha visão deslumbrava-se ainda mais, a magnitude do lago Titicaca, das suas ilhas e da cordilheira que o contorna é indizível. Tessália, por vezes corria na frente e quando pensávamos que ela havia nos deixado, aparecia toda de rabo abanando contente. Guia melhor que ela, que conhecia aquele caminho de cabo a rabo, não poderíamos ter encontrado. Graças às dicas dos nossos amigos da cidade maravilhosa, escapamos mais uma (ou mais) vezes de pagar pelos boletos opcionais. Nada contra os indígenas que penam para conseguir plata para sobreviver, ainda mais na Bolívia, mas também nada contra nosotros, humildes estudantes/mochileiros que andavámos com a plata contada para os dias de nosso trajeto.
Quando chegamos no topo da parte norte, minha mente ficou branca. Eu estava num daqueles momentos que beiram a perfeição, com aquele sentimento que é o melhor. Estava tudo no lugar, não havia como melhorar, apesar do cansaço, da minha cara torrada do sol e da sujeira. Eu me senti um pouco mais completa e ainda não tinha visto as ruínas. Foi impossível não sentir a energia quando finalmente chegamos nas ruínas escondidas na parte norte da isla sagrada, beirando o lago sagrado. Encontramos uns argentinos que haviam acampado ali mesmo, e não foi difícil crer quando eles disseram que, apesar da chuva, a noite tinha sido inacreditável.
As janelas apontavam para o lago, os altares para os ídolos estavam lá e as pequenas portas e corredores deixavam claro que o povo inca possuia uma estatura baixa (por isso tão inteligentes, haha). Tessália nos deu um susto quando se machucou e veio procurar consolo ao meu lado, me atrevo a dizer que ela entendia melhor que a gente o poder daquele lugar. Fomos os primeiros a chegar e podemos observar com tranquilidade cada canto daquele sítio. Porém, infelizmente tivemos que voltar pois não podíamos perder o barco.
O caminho de volta foi leve depois do banho de energia, eu estava começando a entender as consequências interiores daquela viagem, como disse, já me sentia mais completa. Tessália nos deixou exatamente onde nos tinha encontrado, deve ter voltado para casa. Nós voltamos para o povoado e tomamos um café da manhã com as paulistas e uns uruguaios que me fizeram rir do "ajjjer" e não "aier".
Partimos as 14h para a parte sul da ilha junto com nossas companheiras paulistas. Lá ficamos algumas horas antes de pegar o barco de volta para Copacabana e podemos observar a grande quantidade de gente mais velha e crianças, realmente é a parte mais turística da isla. Subimos um pouco numa trilha, para molhar as mãos nas fontes incas. Descansei, lagarteando no sol, extremamente contente por aquele dia, pensando nas pessoas que eu amo, que iriam, da mesma forma que eu, se encantar com aquele lugar. Além disso prometi que, daquele dia em diante, iria passar protetor solar e usar boné sempre. Mal eu podia imaginar que algumas horas mais tarde surgiria o primeiro momento verdadeiramente tenso da viagem.

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