Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Onde, como e por que suprema felicidade?

    O filme "A Suprema Felicidade" marca a volta de Arnaldo Jabor depois de quase 24 anos longe dos cinemas. De maneira nostálgica e confusa, o jornalista e diretor tenta reproduzir sua infância e juventude no Rio de Janeiro pós-guerra.
    O personagem principal, Paulinho (Jayme Matarrazzo), é apresentado com oito anos festejando o final da Segunda Guerra na vila onde mora. O bairro apresenta bem os tipos característicos da época. A família de Paulinho é focada em seus dramas: o pai (Dan Stulbach), aviador fracassado e machista; a mãe (Mariana Lima), cantora frustrada reprimida pelo marido; a avó (Elke Maravilha), uma polaca libertina; e o avô Noel - o personagem mais interessante do filme, interpretado por Marco Nanini.
    Depois que o enredo é apresentado, esperamos alguma ligação entre os acontecimentos enquanto vemos, de forma não linear, o decorrer da juventude de Paulinho. Mas continuamos a esperar essa ligação durante todo o filme e ela não chega a acontecer. As memórias de Jabor se misturam em cenas desconexas e inconclusivas. Vemos a deterioração da relação dos pais de Paulinho, trechos de sua infância com os vizinhos e no colégio católico, suas relações com o melhor amigo, primeiro amor, prostitutas e a iniciação sexual com a ajuda do seu avô. A ausência de início, meio e fim nem sempre é algo negativo - aqui é.
    Nanini em “A Suprema Felicidade” representa a boemia de um “bon vivant” que tenta passar seus conhecimentos e experiências de vida para o neto. "A vida gosta de quem gosta dela", deixa claro o músico Noel. Numa atuação impecável, Nanini guarda em seu personagem toda a “felicidade suprema” que conseguimos encontrar durante o filme.
    A maioria das cenas permanece sem resposta para o “Como?” e “Por que?”. Arnaldo Jabor, talvez ainda preso ao Cinema Novo dos primeiros anos de sua carreira, peca na tentativa de mostrar a sensualidade da época em que produzia seus filmes, com personagens que surgem do nada e somem da mesma forma. Meio perdido, o diretor deixa a desejar na hora de dar um sentido firme à obra. O foco mais esclarecedor com certeza é a relação de Paulinho com o seu avô, que poderia ter sido ainda melhor abordada. De qualquer forma, o filme possui grandes qualidades, como a bela fotografia de Lauro Escorel, que realmente mostra o clima nostálgico idealizado pelo jornalista.
    “A Suprema Felicidade” teria, na teoria, tudo para dar certo: ótimos atores, bom diretor, um roteiro promissor e a beleza da fotografia. Porém, na prática, não me atrevo nem a dizer que o próprio Arnaldo Jabor encontrou sua “suprema felicidade” no filme... ou o título seria uma ironia?


                                                                                 Ana Elizabeth S. de Azevedo

"A Suprema Felicidade"
Direção: Arnaldo Jabor
Roteiro: Arnaldo Jabor
Com: Marco Nanini, Dan Stulbach, Mariana Lima, Elke Maravilha, Jayme Matarazzo
Ano: 2010

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