Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Delírios sóbrios de uma volta pra casa



            A língua emana traços insólitos de pensamentos não desenvolvidos. A mente divaga sobre as histórias nunca contadas, escritas em um livro sem prefácio nem epílogo. Lembranças escondidas em um emaranhado de opiniões, críticas e expressões mal-acabadas. Contos e mais contos alimentados, durante anos, por resquícios de antigos desejos. Desejos esses ainda latentes, vivos em cada personagem retratado dentro dessa biblioteca de ideias.
            A ponta do lápis encosta no papel, e os filhos paridos pela insana imaginação ainda ingênua da moça dos olhos castanhos saltam como coelhos apressados tentando não perder a hora do chá. São mãos, bocas, sonhos, passos perdidos e olhares encontrados misturados ao ritmo quente da valsa que tocava na noite passada.
            Acordada dentro de um sonho ela sublinha as possibilidades, e reflete sem qualquer lucidez sobre os desdobramentos dessa história. É uma dança surda que nem o próprio rei coração, retorcido entre seus átrios e ventrículos, - regente superior desse universo sem era nem beira -, alcança a compreensão.
            Por vezes é como se todas as vontades já sentidas por aqueles olhos atacassem de uma só vez a biblioteca numa explosão de sentimentos sem semelhante. Ela não cansa, mas está exausta. Cada janta, ligação, passeio na lua, volta de balão e subida de montanha suga parte de seus suspiros, acabando por deixá-la sem forças diante das enormes vontades de uma vida inteira.
            Olhar para o céu já não mais basta. É preciso que o mar, a terra, a água, o fogo, a folha que caiu daquela árvore naquele dia em Barcelona, o sopro do vento entre os prédios e o toque suave dos amantes no banco da praça central se unifiquem e, juntos, façam, de alguma forma, sentido. Onde foi parar o sentido descrito naquele parágrafo?
Antes as coisas pareciam tão fáceis. Nessa biblioteca-mundo nem sempre os personagens tem voz. Os olhos castanhos machucam e procuram abrigo no país vizinho. Essa aventura danada alguns por aí teimam em chamar de vida. Vida, cabeça, tacos de Lyon, nuvem amarela, qual é a diferença? Enquanto o lápis toca o papel, os pássaros voam cada vez mais longe, vão diminuindo no horizonte até se tornarem míseros pontinhos que dói só de olhar.
            

            A língua emana traços insólitos de pensamentos não desenvolvidos. Os olhos castanhos miran lejos. E a paixão lê, com calma, cada linha em cada esquina dessa história de um lado só.

Um comentário:

Anônimo disse...

Só agora descobri teu cantinho. Escreves lindamente, suave e macia como cafuné de mãe quando o filho volta pra casa. Não deixa teus leitores em abstinência e continue derramando doçura por aqui.