Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Uma tarde de sol no inverno francês

O tempo muda rápido nas montanhas e o inverno é rigoroso. O vento sopra forte e mesmo assim as nuvens passeiam, na maioria das vezes, sem pressa. Em meio ao inverno majoritariamente branco nos alpes franceses é possível encontrar o sol em dias inesperados como hoje. Numa tarde de terça-feira ensolarada, até, quiçá, quente, aos olhos dos velhos acostumados à vida nas montanhas geladas, as pessoas tomam conta as ruas. No meio da semana tu poderias imaginar que eles estariam trabalhando, tendo aulas, cuidando dos seus afazeres. Mas os cafés em Grenoble, capital do departamento de Isère, na região Rhône-Alpes, na França, estão lotados. As mesas invadem as calçadas e pessoas de todas as idades estão por lá, caminhando no centro, no campus universitário e no bairro vizinho. Eu desço do tram na parada de nome mais gostoso da cidade: "Hubert Dubedout - Maison du Turisme" imersa em meus fones de ouvido tentando compreender as palavras em catalão cantadas numa música qualquer no meu celular. Chego na Place Grenette. O meu olhar sobe e de repente não estou mais imersa em meu mundo. Vejo uma tarde de sol no inverno francês. Um homem nos seus vinte e tantos anos lê um livro, com uma cerveja numa mesa logo na minha frente. Ao lado uma moça coloca os óculos de sol e acende um cigarro, conversando com a amiga. Atrás dois velhinhos discutem sobre algum assunto qualquer, logo ali um homem lê o jornal comprenetrado enquanto uma mãe brinca com sua criança que corre por entre as mesas. A senhora passeia com o seu cachorrinho e o cachorrão do hippie meio morador de rua parece que presta atenção na música que sai do violão do seu humano. O casal passeia de mãos dadas. Mãe e filha olham vitrines. Pessoas esperando o tram, tomando café, comendo um crepe. Eu sigo. Na esquina o som da gaita traz saudades de Paris. A fonte no centro da praça está seca, os adolescentes encostados nela estão fixados no celular. Os prédios em torno da praça, de arquitetura tradicionalmente francesa, que mesmo em seis meses ainda enchem os meus olhos, completam a paisagem. É como um daqueles quadros retratando o cotidiano europeu que nos faz ficar horas divagando e imaginando como deveria ser. Em seis meses essa cidadezinha nos alpes virou minha casa, dona do meu cotidiano, um verdadeiro lar durante essa incessante busca por auto-conhecimento. E ainda assim, da mesma forma que meu coração acelera cada vez que abro a janela pela manhã e me deparo com as montanhas brancas e a cidade amanhecendo lá embaixo, em inúmeros pequenos momentos, como o dessa tarde, me pego estarrecida, sem ainda acreditar verdadeiramente que estou vivendo num cenário saído direto do meu mais querido sonho.



"(...)I estirat, pensant això,
sé que no puc triar-on vaig,
però m'il·lusiono els dematins.
Jo només puc fer el que faig.

Sembla que tot s'ha mogut
i que tornarà a ser maig.
Jo només faig el que puc.
Jo només puc fer el que faig.

Intentant entendre'm més.
Repassant el que he viscut.
Sé que no tot ha estat bé.
Jo només faig el que puc."

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