Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Recuerdos de uma mochila - Copacabana

Acordamos cedo no dia seguinte, prontos para seguir viagem. La Paz tinha sido o início perfeito e ainda havia muitos quilômetros pela frente. Depois do último café da manhã no Loki, pegamos um ônibus simples para Copacabana - cidade que deu nome ao bairro carioca - a 155km de La Paz, na fronteira com o Peru e na beira do Lago Titicaca, o lago comercialmente navegável mais alto do mundo. A viagem, como a maioria, foi exuberante. Em alguns pontos do trajeto via-se o lago de um lado e os picos nevados da Cordilheira Real de outro*. É preciso atravessar uma parte de balsa para chegar à cidade. A vista é magnífica, o azul do lago possui uma intensidade que se mistura com o azul do céu, é imenso, rodeado de ilhas e suas águas se perdem no horizonte. Logo que fizemos a travessia, presenciamos um tipo de parada com uma banda boliviana e os indíos, soldados, enfim, marchando. Foi interessante.
A cidade de Copacabana é essencialmente turística, com a famosa Igreja de Nossa Senhora de Copacabana e o miradouro do morro do Calvário - que não conheci. Na rua principal só se pode ver pequenas agências vendendo passagens, principalmente para o nosso destino daquele dia, a Isla del Sol. Quando esperávamos na beira do lago, numa espécie de praia/pequeno porto, encontramos os paulistas e a alemã que haviámos conhecido numa noite no Loki La Paz, eles também estavam a caminho da Isla. Essa ilha é onde, dizem por aí, nasceu a civilização inca, quando o Deus Sol disse para seus filhos Manco Capac e Mama Ocllo se aquetarem um pouco por lá, antes de construir o império em Cusco.
Nosso transporte era um pequeno barco a motor, nos sentamos, obviamente, na parte de cima, no frio dos quase 4.000 metros de altitude e no sol durante quase duas horas. As consequências físicas dessa viagem seguiram comigo por vários dias... Chegamos na parte sul da ilha e fomos logo nos safando de pagar alguns bolivianos para as cholas que costumam se beneficiar dos turistas. Nos não pagamos graças às dicas dos amigos que fizemos em La Paz. Lá conhecemos mais duas paulistas e fomos todos os oito, em direção à parte norte da Isla. Nosso dinheiro boliviano estava no fim e como a parte norte é conhecida por ser mais barata e mais "roots", onde os jovens acampam, não hesitamos em partir minutos depois de termos chegado. Depois de mais uma hora viajando nas águas azuis do lago sagrado dos incas, chegamos à parte norte numa enseada.
Lá existe um pequena vila de índios quechua e aymara. Metade do grupo ficou responsável pelas mochilas, descansando na enseada enquanto a outra metade foi em busca de "habitaciones" com "ducha caliente" por poucos bolivianos. O que conseguimos, depois de muito subir e descer morros, foram dois quartinhos por uma miséria sem banho quente. Essa foi nossa primeira noite "acompanhados", as paulistas ficaram no quarto conosco. Depois de instalados, chegamos no outro lado da vila, onde havia uma praia e naquela hora lembrei muito de uns amigos bageenses. Era uma pequena praia de água doce, no lago sagrado, cheia de barracas e rodas de violão. O pessoal fazendo brincadeiras de circo, bem como os hippies na redenção, tinham porcos e burros caminhando e pequenas cholitas pedindo dinheiro. A paisagem era uma mistura do bizarro com o maravilhoso. O Dudu comprou umas Paceñas e logo nos aprochegamos com uns uruguaios, sentamos na areia, bebericando uma cerveja gostosa ao som do violão.. Os paulistas até tiraram um Chico Buarque no violão e aquele momento foi bonito.
Quando a noite e a temperatura começaram a cair, as coisas ficaram estranhas. Não havia postes de luz, andávamos com a lanterna do batom da Leila. Os índios nos olhavam como se fôssemos a atração principal da vila. Pretendiámos comer a famosa truta do lago, mas o dinheiro tava acabando e estávamos milhas e milhas e milhas e milhas de um caixa eletrônico. No final das contas, o Dudu economizou nas cervejas (hehe) e depois de comer uma "Salchipapa" (salsicha de procedência duvidosa com enormes batatas/tubérculos/gigantes fritas) por menos de um real, fomos num "restaurante" dividir uma truta. Era uma sala com três mesas e uma cozinha. As paulistas se enfiaram numa cozinha de barro, no pátio de uma casa e cozinharam uma massa, até hoje não entendo como e se aquilo deu certo. Eu tomei uma sopa de quínua bem gostosa e o Dudu e a Leila dividiram o prato que vinha a Truta. Lá conhecemos uma americana de meia idade que tinha tirado o ano, ou mais, para viajar pelas Américas. Batemos um papo ótimo, fora as discordâncias com um paulista do contra, e descobrimos que provavelmente o peixe que a gente comeu não era truta nem no Titicaca, nem na China. Oh, well. Passeamos um pouco pelo lual na beira da praia e logo voltamos para nossa "pousada" descansar.
Eu tava podre de cansada, sem banho, com a cara completamente queimada do sol, com o nariz escorrendo, mas extremamente contente e empolgada para fazer a trilha e ver as primeiras ruínas incas da viagem, no dia seguinte.

*Como diz no meu diário, escrito empolgadamente, no calor da hora: "de um lado o titicaca, do outro lado a cordilheira real e do outro lado o titicaca"
.

2 comentários:

Anônimo disse...

não chegaste a passar pelo salar de uyuni, na bolívia?
é um dos lugares que visito seguidamente na minha cabeça. li uma vez que, lá, quando chove, tu pode ver o céu refletido no chão como se este fosse um espelho. diz que tu não tem noção de distância, e é por isso que lá o tempo não existe.

que bom que tenha postado. seria uma pena ter interrompido o relato.

uma última coisa: o design do blog é muito bonito. na escuridão do quarto, a claridade da foto no fundo do texto faz a leitura ser ainda mais prazerosa.

hasta pronto!

Ana Elizabeth disse...

Sim, visitei. Foi realmente uma experiência única. Mas isso é assunto para outro post. :)