Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Recuerdos de uma mochila - La Paz II

Acordamos cedo, estava frio, colocamos todas as roupas possíveis e fomos tomar café. Pão com geléia e chá nos acompanharam durante toda viagem. Enquanto o Dudu e a Leila terminavam o café eu fui pro saguão esperar nosso guia e pela primeira vez na viagem escutei português que não veio de nós 3. Era um casal e mais um amigo de Brasília. Eu pensava que o mais interessante seria os papos estrangeiros, as pessoas dos outros países... mas na verdade o melhor da viagem foi todos os outros brasileiros que encontramos. Cada um de um canto e todo mundo junto com o mesmo objetivo, trocando experiências, ajudando uns aos outros e aproveitando cada minuto. Aprendi a gostar dos outros sotaques (menos o nordestino, né). Com eles peguei várias dicas de albergues no Chile e pra viagem em si, La Paz era a última parada deles e a nossa primeira. Dudu e Leila sairam pra comprar um remédio pra altitude, afinal tínhamos chegado um dia antes, nossos pulmões ainda não estavam acostumados. Um pouco depois, ainda esperando o guia, mais dois brasileiros. No final das contas nossa trupe para o Chacaltaya era essencialmente brasileira. Nós 3, mais 5 e um casal europeu/asiático. O monte ficava a alguns quilômetros da cidade e ainda paramos para comprar bolachas e folhas de coca. Os guris nos ensinaram a mastigar e acredito que isso nos salvou lá em cima.
Esse dia com certeza foi um dos mais especiais da viagem. Vi pela primeira vez as queridas alpacas e lhamas, até guanacos. Os guris iam contando histórias da viagem deles, que também estava no fim enquanto só me restava imaginar o que nos esperava no resto da viagem. Fui rindo, sempre meio tonta e estupefata com a paisagem ao nosso redor.

Os picos da cordilheira rodeavam os campos onde passávamos e logo começamos uma subida íngrime na beira de um penhasco, em direção ao nosso destino. Acontece que na noite anterior havia nevado muito o que acabou impossibilitando nossa pequena kombi de subir inteiramente o Chacaltaya. O Dudu e a Leila estavam na neve pela primeira vez.
De repente estávamos nós 3, afoitos, subindo o Chacaltaya a pé. O Dudu não negou raça e logo nos passou. Eu e a Leila ficamos pra trás, tirando fotos, e sofrendo com o pulmão apertado.

Fomos até o nosso limite. Aliás, o meu limite, a Leila poderia ter continuado, estávamos acima dos 5.000 metros de altitude. Outro grupo nos passou e nos sentamos para descansar. Nessa hora a minha máquina fotográfica pifou, estragou de vez. Mas isso foi o único detalhe negativo do dia. Fizemos a Tessália, nossa boneca de neve, fizemos anjinho na neve e pulamos como crianças. Quando a neblina começou a descer eu disse "Leila, vai nevar para a gente". Nevou.

Com certeza essa é uma das melhores lembranças da viagem. Eu e a minha amiga pulando, morrendo de rir, sentindo o máximo daquele momento, comendo neve, congelando os pés, enfim, só diversão, pura alegria. Fomos voltando para a kombi e entramos para tentar descongelar os pés e comer bolachas. Sensação inexplicável.
O resto do grupo voltou, vibrando por ter chego no topo e seguimos caminho. Paramos num miradouro e a visão da cidade da paz foi indescritível.

Descemos de volta a cidade e passamos pela parte rica, onde realmente parecia uma cidade como outra qualquer, La Paz é mesmo uma cidade de extremos e exótica ao máximo. Pouco tempo depois do frio congelante da Cordilheira estávamos de camiseta de manga curta andando rápido pelo Valle de la Luna. Formações rochosas surpreendentes que realmente faziam crer estar na lua.

Um momento especial foi quando um índio no topo de uma das rochas tocava uma melodia suave com aquelas flautas latinas. Foi incrível. Nossa guia falava em espanhol sobre geografia, história, lendas, enfim. Os cactus eram enormes, de deixar o meu pobre Damian lá embaixo. Bueno, combinamos uma janta e voltamos para o albergue, o dia ainda não tinha acabado.

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