Aquele sentimento que é a plenitude da beleza, que completa totalmente a alma. Ápice do deleite.
Além da felicidade, apogeu. Íntimo, único e lírico. Máximo, lépido e épico. Eu quero.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Recuerdos de uma mochila - Isla del Sol

Nossa viagem se passou durante o período de chuvas na região andina do Peru e da Bolívia, chuva que impediu nossa visita à Machu Picchu mas que atrapalhou muito pouco nosso trajeto. Sem contar nosso segundo dia na Isla del Sol. Acordamos de manhã cedo preparados para fazer a trilha na ilha e nos deparamos com um temporal de uma intensidade frustante. Eram 8 horas da manhã, não saimos da cama e eu comecei a pensar na Pachamama, que nos protegeu durante toda viagem.
9 horas da manhã e a chuva seguia, a gente ainda não tinha saido do quarto, eu não podia acreditar, tínhamos que pegar o barco para a parte sul no início da tarde. Mas como eu já disse, Pachamama nos acompanhou durante todo o tempo e antes das 10 da manhã a chuva cedeu espaço para alguns poucos raios de sol e nuvens de todas as formas. Nos vestimos e saimos em busca das primeiras ruínas - e as que mais me tocaram - da viagem.
No início do caminho econtramos, ou melhor, fomos encontrados por uma cadela que nos acompanhou durante todo trajeto, saltitando e correndo pela trilha. Apelidamos nossa companheira fiel de Tessália, afinal naquela época tudo era uma Tessália. A trilha era de tirar o fôlego, literalmente, tanto pela subida quanto pela paisagem. A cada passo minha visão deslumbrava-se ainda mais, a magnitude do lago Titicaca, das suas ilhas e da cordilheira que o contorna é indizível. Tessália, por vezes corria na frente e quando pensávamos que ela havia nos deixado, aparecia toda de rabo abanando contente. Guia melhor que ela, que conhecia aquele caminho de cabo a rabo, não poderíamos ter encontrado. Graças às dicas dos nossos amigos da cidade maravilhosa, escapamos mais uma (ou mais) vezes de pagar pelos boletos opcionais. Nada contra os indígenas que penam para conseguir plata para sobreviver, ainda mais na Bolívia, mas também nada contra nosotros, humildes estudantes/mochileiros que andavámos com a plata contada para os dias de nosso trajeto.
Quando chegamos no topo da parte norte, minha mente ficou branca. Eu estava num daqueles momentos que beiram a perfeição, com aquele sentimento que é o melhor. Estava tudo no lugar, não havia como melhorar, apesar do cansaço, da minha cara torrada do sol e da sujeira. Eu me senti um pouco mais completa e ainda não tinha visto as ruínas. Foi impossível não sentir a energia quando finalmente chegamos nas ruínas escondidas na parte norte da isla sagrada, beirando o lago sagrado. Encontramos uns argentinos que haviam acampado ali mesmo, e não foi difícil crer quando eles disseram que, apesar da chuva, a noite tinha sido inacreditável.
As janelas apontavam para o lago, os altares para os ídolos estavam lá e as pequenas portas e corredores deixavam claro que o povo inca possuia uma estatura baixa (por isso tão inteligentes, haha). Tessália nos deu um susto quando se machucou e veio procurar consolo ao meu lado, me atrevo a dizer que ela entendia melhor que a gente o poder daquele lugar. Fomos os primeiros a chegar e podemos observar com tranquilidade cada canto daquele sítio. Porém, infelizmente tivemos que voltar pois não podíamos perder o barco.
O caminho de volta foi leve depois do banho de energia, eu estava começando a entender as consequências interiores daquela viagem, como disse, já me sentia mais completa. Tessália nos deixou exatamente onde nos tinha encontrado, deve ter voltado para casa. Nós voltamos para o povoado e tomamos um café da manhã com as paulistas e uns uruguaios que me fizeram rir do "ajjjer" e não "aier".
Partimos as 14h para a parte sul da ilha junto com nossas companheiras paulistas. Lá ficamos algumas horas antes de pegar o barco de volta para Copacabana e podemos observar a grande quantidade de gente mais velha e crianças, realmente é a parte mais turística da isla. Subimos um pouco numa trilha, para molhar as mãos nas fontes incas. Descansei, lagarteando no sol, extremamente contente por aquele dia, pensando nas pessoas que eu amo, que iriam, da mesma forma que eu, se encantar com aquele lugar. Além disso prometi que, daquele dia em diante, iria passar protetor solar e usar boné sempre. Mal eu podia imaginar que algumas horas mais tarde surgiria o primeiro momento verdadeiramente tenso da viagem.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Desabafo após uma aventura de palavras

A necessidade que tenho de colocar minha alma, o fundo de mim mesma na folha de um papel me chama a todo instante. Mas sou fraca e sou descrente. Penso que as humildes palavras minhas de nada adiantarão para a minha jornada. Porém nem as palavras dos sábios, dos que me inspiram eu tenho procurado. Estou parada, estou morta para os meus anseios. É preciso momentos como uma simples visita para acordarem-me e mostrarem-me que sou possível. Sou possível. O tempo é uma invenção dos que não são loucos. O tempo é uma questão de tempo. Terei tempo. Lerei. Escreverei. Acordarei.


Agradecimento pelas palavras que me tocam, que me acordam.

Tuas palavras me arrepiam a cada frase! Ao lê-las, ao te ler, a inspiração jorra dentro de mim, quero escrever o mundo, quero escrever a minha alma! Visito teu blog para lembrar-me dos meus desejos, dos meus anseios e da possibilidade de realizá-los. Tu tens o mundo e tu tens a palavra. Não foi por acaso que o sonho sul-americano que vivemos nos pôs no mesmo caminho por alguns instantes. Hoje eu sei, era para eu poder te ler, te sentir e me inspirar, me fazer crer. Só me resta agradecer sempre e esperar tranquila por tuas palavras, por tua vivência, por tua poesia que me dão um pouco mais de vida a cada leitura.

terça-feira, 29 de junho de 2010

(im)publicação

Algo sobre minhas vontades e para as minhas amizades.
Aqui publico, passível de julgamento e tranquila de consciência.

Como seria se tudo o que eu penso e sinto fosse publicável? Que reações receberia de mim mesma? Como escrever pensamentos que, na teoria, são impensáveis? Momentos vividos na minha mente, na minha alma, mais verdadeiros que algumas lembranças. Dizer, escrever tudo aquilo que se passa dentro de mim, cada dúvida e certeza, cada vida e morte interior. É possível? Eu teria coragem de ler? Expor as sensações, o turbilhão de vida, de poema, de memória que sou. Todos que olhei, que toquei, que me olharam, que me tocaram. Todos que fazem parte dessa (im)publicação da minha vida. Tu fazes parte? Tu lerias?
Eu sou um pouco de cada um, me encontro nas lembranças, no passado e no presente. Divago sobre o futuro e ao terminar as linhas dessa folha de papel, minha companheira, deixo uma observação - escrita na parede do meu quarto -, para o amigo/irmão, também parte dessa estrada, @poli_quaresma:

"Desvario embora, lá tem seu método". - Quincas Borba ou Hamlet, vai saber.

Trago junto, no embalo, mais uma homenagem, comentário do comentário:

“Nossa amizade é unilateral” (!)(?)
Faço uma visita rápida pra deixar exposto a bi-unilateralidade da nossa amizade. Do meu lado eu te julgo, te aconselho e te admiro. Do teu lado tu me cede a tua amizade. Do meu lado, tu. Do teu lado, eu. Já disse várias vezes que pra mim, não importa o requinte, o tamanho do texto. Pra mim importa se me toca. Tu me toca sempre, tu passa exatamente o que tu sente, e me admiro que tu ainda insista em dizer que a nossa amizade é unilateral. Meu voto é sempre pra ti, apesar de todos os pesares. Beijos, até amanhã no meu blog. (ou agora)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Recuerdos de uma mochila - Copacabana

Acordamos cedo no dia seguinte, prontos para seguir viagem. La Paz tinha sido o início perfeito e ainda havia muitos quilômetros pela frente. Depois do último café da manhã no Loki, pegamos um ônibus simples para Copacabana - cidade que deu nome ao bairro carioca - a 155km de La Paz, na fronteira com o Peru e na beira do Lago Titicaca, o lago comercialmente navegável mais alto do mundo. A viagem, como a maioria, foi exuberante. Em alguns pontos do trajeto via-se o lago de um lado e os picos nevados da Cordilheira Real de outro*. É preciso atravessar uma parte de balsa para chegar à cidade. A vista é magnífica, o azul do lago possui uma intensidade que se mistura com o azul do céu, é imenso, rodeado de ilhas e suas águas se perdem no horizonte. Logo que fizemos a travessia, presenciamos um tipo de parada com uma banda boliviana e os indíos, soldados, enfim, marchando. Foi interessante.
A cidade de Copacabana é essencialmente turística, com a famosa Igreja de Nossa Senhora de Copacabana e o miradouro do morro do Calvário - que não conheci. Na rua principal só se pode ver pequenas agências vendendo passagens, principalmente para o nosso destino daquele dia, a Isla del Sol. Quando esperávamos na beira do lago, numa espécie de praia/pequeno porto, encontramos os paulistas e a alemã que haviámos conhecido numa noite no Loki La Paz, eles também estavam a caminho da Isla. Essa ilha é onde, dizem por aí, nasceu a civilização inca, quando o Deus Sol disse para seus filhos Manco Capac e Mama Ocllo se aquetarem um pouco por lá, antes de construir o império em Cusco.
Nosso transporte era um pequeno barco a motor, nos sentamos, obviamente, na parte de cima, no frio dos quase 4.000 metros de altitude e no sol durante quase duas horas. As consequências físicas dessa viagem seguiram comigo por vários dias... Chegamos na parte sul da ilha e fomos logo nos safando de pagar alguns bolivianos para as cholas que costumam se beneficiar dos turistas. Nos não pagamos graças às dicas dos amigos que fizemos em La Paz. Lá conhecemos mais duas paulistas e fomos todos os oito, em direção à parte norte da Isla. Nosso dinheiro boliviano estava no fim e como a parte norte é conhecida por ser mais barata e mais "roots", onde os jovens acampam, não hesitamos em partir minutos depois de termos chegado. Depois de mais uma hora viajando nas águas azuis do lago sagrado dos incas, chegamos à parte norte numa enseada.
Lá existe um pequena vila de índios quechua e aymara. Metade do grupo ficou responsável pelas mochilas, descansando na enseada enquanto a outra metade foi em busca de "habitaciones" com "ducha caliente" por poucos bolivianos. O que conseguimos, depois de muito subir e descer morros, foram dois quartinhos por uma miséria sem banho quente. Essa foi nossa primeira noite "acompanhados", as paulistas ficaram no quarto conosco. Depois de instalados, chegamos no outro lado da vila, onde havia uma praia e naquela hora lembrei muito de uns amigos bageenses. Era uma pequena praia de água doce, no lago sagrado, cheia de barracas e rodas de violão. O pessoal fazendo brincadeiras de circo, bem como os hippies na redenção, tinham porcos e burros caminhando e pequenas cholitas pedindo dinheiro. A paisagem era uma mistura do bizarro com o maravilhoso. O Dudu comprou umas Paceñas e logo nos aprochegamos com uns uruguaios, sentamos na areia, bebericando uma cerveja gostosa ao som do violão.. Os paulistas até tiraram um Chico Buarque no violão e aquele momento foi bonito.
Quando a noite e a temperatura começaram a cair, as coisas ficaram estranhas. Não havia postes de luz, andávamos com a lanterna do batom da Leila. Os índios nos olhavam como se fôssemos a atração principal da vila. Pretendiámos comer a famosa truta do lago, mas o dinheiro tava acabando e estávamos milhas e milhas e milhas e milhas de um caixa eletrônico. No final das contas, o Dudu economizou nas cervejas (hehe) e depois de comer uma "Salchipapa" (salsicha de procedência duvidosa com enormes batatas/tubérculos/gigantes fritas) por menos de um real, fomos num "restaurante" dividir uma truta. Era uma sala com três mesas e uma cozinha. As paulistas se enfiaram numa cozinha de barro, no pátio de uma casa e cozinharam uma massa, até hoje não entendo como e se aquilo deu certo. Eu tomei uma sopa de quínua bem gostosa e o Dudu e a Leila dividiram o prato que vinha a Truta. Lá conhecemos uma americana de meia idade que tinha tirado o ano, ou mais, para viajar pelas Américas. Batemos um papo ótimo, fora as discordâncias com um paulista do contra, e descobrimos que provavelmente o peixe que a gente comeu não era truta nem no Titicaca, nem na China. Oh, well. Passeamos um pouco pelo lual na beira da praia e logo voltamos para nossa "pousada" descansar.
Eu tava podre de cansada, sem banho, com a cara completamente queimada do sol, com o nariz escorrendo, mas extremamente contente e empolgada para fazer a trilha e ver as primeiras ruínas incas da viagem, no dia seguinte.

*Como diz no meu diário, escrito empolgadamente, no calor da hora: "de um lado o titicaca, do outro lado a cordilheira real e do outro lado o titicaca"
.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Recuerdos de uma mochila - La Paz IV

O dia seguinte foi nosso último dia na "capital" da Bolívia. Levantamos e tomamos um café da manhã tranquilo - pão com geléia e chá de coca. Nossos pulmões já estavam relativamente acostumados com a altitude. Saímos para procurar uma máquina fotográfica, já que a minha havia estragado no Chacaltaya. Os guris nos mostraram um bairro onde eram vendidos aparelhos eletrônicos. Fomos caminhando pela cidade, subindo e se afastando do centro turístico. Chegamos num ponto onde eram vendidas as coisas para os locais. Lá tinham as saias, os sapatos, chapéus e tudo o que as cholas usam. Tentei convencer a Leila a comprar uma saia de chola comigo, mas não rolou. Depois de muito procurar chegamos num bairro bem interessante por assim dizer. Eram como camelôs enormes, mas que vendiam somente eletrônicos. Televisões de plasma, sons, telefones, filmadoras, e por aí vai. Demorei pra encontrar a máquina que resolvi comprar, mas penso que fiz um bom negócio. Não sei se mencionei que o real é bem valorizado na Bolívia, ou seja, as coisas são muito baratas. Nessa hora já havia passado do meio dia e estávamos morrendo de fome. Estávamos voltando para o centro e encontramos os nossos companheiros cariocas e catarinas. O Dudu resolveu comprar um mochilão enquanto todo mundo ia fazendo mais algumas comprinhas. Andamos de um lado para outro até resolver almoçar o prato do dia de um restaurante simples lá no centrão com cardápio escrito em hebraico. O almoço foi ótimo, eu estava com máquina fotográfica de novo, feliz, enchendo o saco dos outros com a minha alegria, tava passando uma tourada na televisão e a gente comeu bem por pouco. Engraçado e divertido? Sempre.
De tarde exploramos mais o marcado das bruxas, hesitei em comprar uma múmia de lhamita para enterrar no terreno de casa, mas não comprei. O colorido daquelas ruelas me surpreendiam a todo instante, é apaixonante. Perambulamos por todos os lados na Calle Sagárnaga tentando encontrar uma passagem barata para Copacabana, na beira do lago Titicaca, nosso próximo destino. Encontramos. Ainda fomos no banco, nas casas de câmbio e no el prado, uma rua mais chique, por assim dizer, da cidade.
De volta no albergue ficamos batendo papo com o pessoal de Brasília que iria embora no outro dia. Na verdade quase todos estavam indo embora no outro dia. Arrumamos as coisas no quarto e descansamos um pouco - fazendo bobagens, brincando, discutindo e se não eu ou a Leila, sempre o Dudu rindo. Ele estava meio que completamente de ressaca então nem jantou, eu e a Leila comemos um mega sanduiche com papas fritas assistindo o casal sueco jogar um estranho jogo de cartas. Todos os dias e todo o tempo o casal estava jogando cartas. Vício. De noite teve uma festa a fantasia no albergue e foi muito engraçado ver o pessoal fantasiado. Nossa última noite foi certamente marcada por dois malas que encontraram nosso grupo brasileiro. Um carioca - de Niterói merrrmão e um mineiro que estavam podre de bêbados e só nos fizeram rir. A primeira parte da viagem havia chegado ao fim, foi meio nostálgico e triste me despedir dos primeiros amigos, anjinhos que encontramos na viagem. O mochilão é feito de pequenos momentos, dos lugares que visitamos, das sensações que sentimos e das pessoas que conhecemos. Naquela noite agradeci, como todos os dias, mas especialmente pelo início perfeito que tivemos na nossa viagem. E ela estava apenas começando.

Recuerdos de uma mochila - La Paz III

Chegamos no albergue cansados e felizes. O banho, como sempre, reconfortante e o cansaço pedia a cama. Mais tarde descemos para jantar com os outros brasileiros, tinha carioca e catarina. Como podia se esperar o fogo não funcionou direito na cozinha para os hóspedes então tivemos que esperar para poder usar a cozinha do hostel mesmo. Nesse meio tempo demos risada e conhecemos um pouco mais o pessoal. A espera valeu muito a pena, o catarina Marlon, que tive a sorte de encontrar, é um cozinheiro de mão cheia e com certeza aquela massa carbonara tão esperada entrou pra lista dos melhores pratos que eu já comi. Depois da janta fomos para o bar "hang out". Era hora de provar as bebidas. Nem acreditei quando vi que eles tinham Jägermeister lá! É uma bebida extremamente interessante que se toma com energético nas chamadas Jäger bombs, essas bombas definitivamente marcaram meu intercâmbio lá nos Estados Unidos. Mas, infelizmente as bombas estavam muito caras então preferimos Tequila Sunrise. DELÍCIA. Tequila + coisa doce, poderia ser melhor? Enquanto eu me deliciava com o coquetel o Dudu começou uma empreitada de provar todas as cervejas do bar, o que obviamente não acabou muito bem. A cerveja de La Paz, a Paceña é realmente muito boa e foi o que tomamos mais. O clima era ótimo, gente de todos os lugares do mundo, completamente ou parcialmente loucos, curtindo ao máximo. Nos juntamos com creio que todos os brasileiros do albergue e dançamos, pintamos e bordamos. Encontramos um paulista que mora aqui em Porto Alegre, com a minha colega de trabalho. Oi? Rimos das estrangeiras duras dançando, rimos dos bartenders, dos sotaques, dos borrachos, rimos da vida, rimos do mundo. Falávamos em português, espanhol, inglês, portunhol, javanês e por aí vai.. Depois de um tempo a Leila e o Dudu já estavam tomando coca com rum e sei lá o que mais. O melhor da noite foram os dois trêbados fazendo eu rir no quarto. Quando o bar fechou, no início da madrugada, um pessoal partiu pra uma festa e nos voltamos para o quarto, tendo gastado o dobro do previsto na noite, mas se divertido o dobro também.
Tequila Sunrise
Brasileiros no Loki Hostel
Paceña - es cerveza

Recuerdos de uma mochila - La Paz II

Acordamos cedo, estava frio, colocamos todas as roupas possíveis e fomos tomar café. Pão com geléia e chá nos acompanharam durante toda viagem. Enquanto o Dudu e a Leila terminavam o café eu fui pro saguão esperar nosso guia e pela primeira vez na viagem escutei português que não veio de nós 3. Era um casal e mais um amigo de Brasília. Eu pensava que o mais interessante seria os papos estrangeiros, as pessoas dos outros países... mas na verdade o melhor da viagem foi todos os outros brasileiros que encontramos. Cada um de um canto e todo mundo junto com o mesmo objetivo, trocando experiências, ajudando uns aos outros e aproveitando cada minuto. Aprendi a gostar dos outros sotaques (menos o nordestino, né). Com eles peguei várias dicas de albergues no Chile e pra viagem em si, La Paz era a última parada deles e a nossa primeira. Dudu e Leila sairam pra comprar um remédio pra altitude, afinal tínhamos chegado um dia antes, nossos pulmões ainda não estavam acostumados. Um pouco depois, ainda esperando o guia, mais dois brasileiros. No final das contas nossa trupe para o Chacaltaya era essencialmente brasileira. Nós 3, mais 5 e um casal europeu/asiático. O monte ficava a alguns quilômetros da cidade e ainda paramos para comprar bolachas e folhas de coca. Os guris nos ensinaram a mastigar e acredito que isso nos salvou lá em cima.
Esse dia com certeza foi um dos mais especiais da viagem. Vi pela primeira vez as queridas alpacas e lhamas, até guanacos. Os guris iam contando histórias da viagem deles, que também estava no fim enquanto só me restava imaginar o que nos esperava no resto da viagem. Fui rindo, sempre meio tonta e estupefata com a paisagem ao nosso redor.

Os picos da cordilheira rodeavam os campos onde passávamos e logo começamos uma subida íngrime na beira de um penhasco, em direção ao nosso destino. Acontece que na noite anterior havia nevado muito o que acabou impossibilitando nossa pequena kombi de subir inteiramente o Chacaltaya. O Dudu e a Leila estavam na neve pela primeira vez.
De repente estávamos nós 3, afoitos, subindo o Chacaltaya a pé. O Dudu não negou raça e logo nos passou. Eu e a Leila ficamos pra trás, tirando fotos, e sofrendo com o pulmão apertado.

Fomos até o nosso limite. Aliás, o meu limite, a Leila poderia ter continuado, estávamos acima dos 5.000 metros de altitude. Outro grupo nos passou e nos sentamos para descansar. Nessa hora a minha máquina fotográfica pifou, estragou de vez. Mas isso foi o único detalhe negativo do dia. Fizemos a Tessália, nossa boneca de neve, fizemos anjinho na neve e pulamos como crianças. Quando a neblina começou a descer eu disse "Leila, vai nevar para a gente". Nevou.

Com certeza essa é uma das melhores lembranças da viagem. Eu e a minha amiga pulando, morrendo de rir, sentindo o máximo daquele momento, comendo neve, congelando os pés, enfim, só diversão, pura alegria. Fomos voltando para a kombi e entramos para tentar descongelar os pés e comer bolachas. Sensação inexplicável.
O resto do grupo voltou, vibrando por ter chego no topo e seguimos caminho. Paramos num miradouro e a visão da cidade da paz foi indescritível.

Descemos de volta a cidade e passamos pela parte rica, onde realmente parecia uma cidade como outra qualquer, La Paz é mesmo uma cidade de extremos e exótica ao máximo. Pouco tempo depois do frio congelante da Cordilheira estávamos de camiseta de manga curta andando rápido pelo Valle de la Luna. Formações rochosas surpreendentes que realmente faziam crer estar na lua.

Um momento especial foi quando um índio no topo de uma das rochas tocava uma melodia suave com aquelas flautas latinas. Foi incrível. Nossa guia falava em espanhol sobre geografia, história, lendas, enfim. Os cactus eram enormes, de deixar o meu pobre Damian lá embaixo. Bueno, combinamos uma janta e voltamos para o albergue, o dia ainda não tinha acabado.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Recuerdos de uma mochila - La Paz

No caminho para o hostel não foi possível dar uma boa olhada na cidade. O que vi foram muitas ladeiras e pra variar, buzinas. O prédio do Loki Hostel é antigo e bonito, a sensação de finalmente chegar lá foi de puro alívio. Havia um bar, vários lugares para "hang out", inclusive um "bar de oxigênio". O nosso quarto era triplo e já estava reservado. Deixamos nossas mochilas numa pilha junto com outras e fomos tomar café da manhã no bar enquanto esperávamos para fazer o check-in. Tomei o meu primeiro chá de coca e foi reconfortante, comemos uma comida boa e apesar da nossa sujeira e cansaço, a felicidade era plena. Mochileiros, jovens, velhos, guris e gurias por todos os lados, o ar descontraido do albergue tomou conta da gente. Nosso quarto era o máximo, logo montamos nosso varal, guardamos as coisas e tomamos um merecido, maravilhoso e refrescante banho. O primeiro passo foi planejar o passeio do dia seguinte, num pico da Cordilheira dos Andes, o Chacaltaya. Logo depois, saimos para passear pelo centro, comprar bugigangas e roupas para o frio. Uma mistura de cores e pessoas tomavam conta do ambiente. Naquele instante, em meio a quinquilharias lindas, feita pelos indígenas, vendo os prédios colonais e a ordem dentro do caos, La Paz me encantou. Fomos com tanta vontade atrás dos blusões e das tocas que nem lembramos que estávamos a quase 4.000 metros de altitude. Cada passo era um desafio, ao respirar a sensação era que não havia ar suficiente. A pressão do Dudu baixou, estávamos os três tontos, pela altitude e pelo momento que estávamos vivendo. Caminhamos por vários cantos da cidade e voltamos para jantar no albergue as maiores "papas fritas" que eu já comi. Papeamos, demos boas risadas com alguns estrangeiros e penamos para subir os dois andares até nosso quarto. Fomos dormir meio cedo, depois das rotineiras palhaçadas, enfim numa cama boa e aconchegante.
 primeiro almoço no albergue
 nosso varal
 mercado das bruxas
 loki hostel

Recuerdos de uma mochila - Indo para La Paz

A viagem para La Paz merece um post especial. Do pequeno hostel em Santa Cruz de la Sierra partimos para o Terminal de Buses numa kombi caindo aos pedaços, lotada, repleta, cheia de cholas e pequenos bolivianos mais nós 3 e nossas mochilas. Posso dizer que esse trajeto foi nossa primeira aventura, uma pobre boliviana levou várias mochiladas na cara, uma criancinha cholita quase levou embora o macaco da minha bolsa e eu ainda não sei como conseguimos sair daquela kombi e como não morremos asfixiados ou esmagados, ou sei lá.
No terminal corremos para onde o onibus iria sair com nossas mochilas e sem saber que tinha que pagar uma taxa de embarque. Nessa hora encontramos os primeiros mochileiros que nos deram uma mão, explicaram onde tínhamos que pagar (esse é um costume normal lá, pagar uma pequena taxa de embarque) e onde deixar as mochilas, no balcão da companhia do nosso ônibus. Bom, a gente tinha pagado um pouco mais para ter um bus super bacana, dois andares, com só três poltronas por fila, afinal eram 18 horas até La Paz nas estradas bolivianas subindo a serra/cordilheira/montanhas, enfim, subindo. Os nossos lugares eram lá no final do corredor, estávamos achando o máximo............. Até começar a viagem.
No entardecer a paisagem era comum, nos arredores de Santa Cruz, eu estava na janela e quando fui deitar a minha poltrona bus cama, descobri que ela tava estragada e ficava subindo. Sim, ela deitava e aos poucos ia voltando pra posição inicial. Ela não ficava deitada. 18 horas de viagem. A poltrona não ficava deitada. Deu pra entender?
Quando anoiteceu, tudo mudou. Cholas e bolivianos começaram a entrar no ônibus e a se sentar e deitar no corredor. A Leila acordou com um boliviano - que ficou conhecido como Lhama - deitado no nosso lado, comendo nossas bolachas. A parada da noite pode ser resumida em uma palavra: bizarra. Era uma construção não totalmente construída, com umas cholas vendendo alguma gororoba numa panela, uma banquinha (ainda bem) com refri e bolachas e um "banheiro", que tinha que pagar pra usar, obviamente. Essa parte que chamavam de "baño" era uma sala com cabines com um buraco no chão. Aham, um buraco no chão. A Leila tem fotos. Tomamos uma coca, compramos algumas "oreos" e outras bolachas e observamos, refletimos um pouco. Estávamos apavorados no bom e no mal sentido.
Troquei de lugar com o Dudu pra descobrir que a poltrona dele também subia de volta, não tanto quanto a minha, então deu pra dar uma dormida. Costumávamos dizer que tínhamos "nascido pra isso" e que o soroche, o mal da altitude, não iria nos afetar. Não sentimos a subida, mas na manhã do dia seguinte a paisagem era deslumbrante! Estávamos em meio a montanhas, passando por penhascos e o sol batia nelas e o tom dourado era incrível. E a subida continuava.... Passamos por inúmeros povoados marrons só com EVO escrito nas paredes e pelos famosos gasodutos da Bolívia. Eu comecei a sentir um pouco de dor de cabeça e a Leila já estava mais pra lá do que pra cá. A segunda parada foi um pouco melhor, era perto de um povoado e a Leila vomitou, hehe. Chegamos a conclusão que tínhamos nascido mais ou menos pra isso. O Dudu tentou dar um caô na chola da venda e ela chingou ele em português. Bem feito. Já estávamos um trapo e ainda tinha mais algumas horas de viagem. A paisagem era tipo dos campos de cima da serra e o Dudu e a Leila já tinham avistado umas lhamas ou alpacas, eu ainda não. Não aguentávamos mais comer bolachas........... seguíamos viagem.
La Paz fica num vale, rodeada de montanhas e picos nevados. O centro e a parte rica da cidade ficam lá embaixo e as construções mais pobres, algo como favelas iam subindo "o morro" e lá em cima, antes de descer, fica uma cidade relativamente nova, a 4.100 metros de altitude, El Alto. A cidade é repleta de construções não acabadas e extremamente marrom. O trânsito pra variar é um caos e a buzina domina.
Depois de mais de 19 horas no bus, chegamos a La Paz. Fomos descendo, entrando no vale, a visão espetacular daquela enorme cidade no meio das montanhas. O Dudu e a Leila viram neve pela primeira vez de longe. Completamente tontos tivemos que descer entre vários ônibus chegando e saindo. Cambaleamos até um taxi e demos o endereço do Loki Hostel. Finalmente na querida La Paz, a 3.660 metros acima do nível do mar.
 Subindo - Baño
 cansados, sujos e tontos - indo para La Paz

terça-feira, 30 de março de 2010

Me ensina

E quando o amor não é mais certo? Quando a certeza já não existe? Quando de repente, o tudo já é nada e o nada dói fundo em lugares que eu nem sabia que eu tinha. Me ensina a seguir vivendo, vivendo pela metade, assim, desse jeito. Me diz pra ficar bem, pra ir tranquila, sem pensar desvarios em vão. Onde ficou tudo? Cadê a esperança e a vontade de fazer acontecer? Todas aquelas palavras, aqueles momentos? Não me responde. A resposta tá com o tempo? Tudo passa? Vou ficar bem? Tudo passa? Até o amor? Me ensina a viver assim, sozinha. Me diz como seguir viagem, como andar pra frente, sem olhar pra trás. Me ensina, mas não me olha, não me dói. Não encosta o teu olhar no meu, teu olhar que não é mais meu. Não faz assim, não mostra o teu sorriso que não sorri mais pra mim. Me ensina a viver, a viver e conseguir te perder. Me mostra como ser eu mesma, a continuar caminhando, sem o teu conforto e teu coração me acompanhando.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Querendo ser

Verdadeiras são as palavras que se desprendem,
Vão saindo sem pedir licença,
Transformando sentimentos em frases,
Explorando devaneios,
Poetizando e sendo vida,

A mim resta apenas refletir,
Querendo ser como as palavras,
Puras poetizas, redentoras do êxtase,
Imensas, tais palavras,
Que satisfazem a alma,
E completam o meu ser.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Para os desinformados

Talvez minha espontaneidade possa transmitir alguma impressão errônea sobre o que realmente sou, talvez não. Mas não se iluda, eu sou, como diria Saint-Exupéry, invisível aos olhos. Eu sou arte, sou natureza, sou além. Eu tenho sede por cultura, por vivência, por ir além. Surpreendentemente tendo a surpreender e a ser surpreendida. Em constante evolução sou intensidade, sou poesia e sou verdade. Que fique bem claro, tenho a alma lépida e, tal como Cecília, creio na potência e na virtude das palavras. “A liberdade das almas, ai! com letras se elabora…”.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Reflexões de uma mochila

Eu ainda estou tonta. Abalada de ter voltado à realidade, de ter acordado do meu sonho. Não messo palavras para dizer que vivi um sonho. Estou atordoada, tentando digerir os momentos, os instantes que alcancei meus objetivos, que beirei a perfeição da felicidade, da intensidade, da plenitude da alma, de fato. Pode parecer exagero, mas uma alma intensa, que anseia por conhecimento, poesia e cultura, vibra a cada minuto, a cada passo com 15 quilos nas costas, a cada encontro com um novo povo, novos lugares, novas paisagens, novo clima, novas pessoas, novas almas em busca de um mesmo objetivo: saciar a sede de tudo, de colocar uma mochila nas costas e viver o mundo, viver o tudo, toda hora. Penso no que escreveriam aqueles grandes poetas que leio, que me inspiram, ao presenciarem o que eu vivi. A imensidão do sagrado Titicaca, o poder do Vale também Sagrado, a imponência do Cañon del Colca, o infinito do salar de Uyuni, a magnitude do deserto de Salvador Dalí e o encanto dos anjos que encontrei por aí. Nós, andarilhos pela América do Sul querendo mais e mais. Nunca imaginei as consequências dessa viagem e agora no conforto do meu próprio quarto me sinto mais longe de casa do que nunca. Por fim, deixo uma frase que nos acompanhou durante todo trajeto, dita por outro mochileiro descendo o Chacaltaya: "o que importa no caminho é a pedra."

Recuerdos de uma mochila - SEGUNDA PARTE

Acordamos e partimos logo para a prática do desapego, ritual que se tornou usual na nossa viagem. Tomar banho e lavar os cabelos com água gelada. Fichinha. A cidade de Santa Cruz traduz o caos na Terra. Supostamente o centro econômico da Bolívia, a cidade se resume em uma rede de aneis mal sinalizados com prédios não totalmente construídos - salvo a região central - onde o som oficial é a buzina dos carros. A cor predominante é o marrom da poeira e nas lojas macacões coloridos, fantasias aparentemente típicas para os blocos do carnaval. Afim de comprar a passagem para La Paz, utilizamos como meio de transporte uma kombi caindo aos pedaços lotada de cholas - mulheres indígenas de cabelos negros e longos, com saias típicas e odor não muito agradável na maioria das vezes - e do pequeno (mais que eu) povo boliviano. Relativamente fácil chegar ao terminal de buses e comprar a passagem no bus "cama" que levaria 18 horas para chegar ao destino final. Tiramos o resto do dia para conhecer o centro, de fato muito bonito, com a típica plaza de armas e a catedral central. Em nosso albergue simples contamos com a ajuda do querido faz tudo (arruma as camas, limpa banheiro, guarda as mochilas, trabalha no balcão, etc) para nos situarmos na cidade. Nosso ônibus saiu as 17h em direção a La Paz. Nesse primeiro dia de viagem, confesso que gastei algum tempo pensando sobre a "exótica" Bolívia que estava vendo, ainda não tinha me apaixonado pelo país, pelo povo, pela cultura. Eu era "verde", as primeiras impressões não foram as melhores e minha mochila ainda estava limpa.
 Igreja na praça central de Santa Cruz de la Sierra

terça-feira, 9 de março de 2010

Recuerdos de uma mochila - PRIMEIRA PARTE

A gente cruzou a porta do aeroporto em direção ao setor internacional. Depois de mais de oito meses planejando, havia chegado o dia. Um mês inteiro, ou melhor, somente um mês, viajando pela América do Sul. Eu, Dudu e Leila, amigos que o destino uniu por acaso e não por acaso permaneceremos para sempre. Os destinos? Bolívia, Peru, Chile e Argentina, cada um com seu encanto. Nada de Europa, nada de América do Norte, e sim o nosso continente, nossos vizinhos, nossos hermanos. De Porto Alegre voamos para São Paulo, onde conseguimos pegar o vôo para Santa Cruz de la Sierra na Bolívia com algumas horas de atraso. Chegamos de madrugada, depois das duas da manhã no aeroporto Viru-Viru, nome também pertencente à mochila da Leila. Pegamos um taxi até o centro da cidade onde iámos nos hospedar, o aeroporto estava alguns quilômetros distante da cidade e a primeira impressão da Bolívia foi meio estranha e vazia demais para descrever aqui. Completamente nervosa, mal pude acreditar que havíamos chegado, depois de um perrengue já no aeroporto com o cara da imigração implicando com a Leila, talvez ela fosse mesmo traficante ou cafetona. Finalmente numa cama, em um albergue simples de Santa Cruz, pude sentir um pouco do que havia começado. Nós três, pela América, pelos cantos e esquinas desse continente, munidos apenas de nossas mochilas, uma garrafa de água, curiosidade imensa e a vontade única de absorver cada segundo dos momentos que iríamos viver. Mal sabia eu, naquela época, como diz um amigo, ainda "verde", que esses próximos dias iriam mudar a minha vida, minha história e a mim mesma.
eu e leila no aeroporto - atraso na viagem